Simples como jogar fora o que é lixo

A recente visita que fiz ao Centro de Ensino Fundamental da Vila Planalto, em Brasília, para uma palestra sobre literatura, me permitiu comprovar duas coisas.

A primeira é que a burocracia, com sua vaidade e indolência, chega a ser inimiga da racionalidade.

Desde o início do ano, alguns móveis velhos e destruídos estão acumulados no fundo da escola. É lixo, não há outra definição para o amontoado de ferro e madeira de fórmica sem qualquer utilidade para um país que precisa com uma urgência de séculos investir no ensino básico.

Mas por que então não se recolhe toda aquela tralha inútil e se dá a ela o fim lógico? É porque se trata de patrimônio, e como tal necessita de regras até mesmo para deixar de existir, o que, aliás, é compreensível.

Mas qualquer um que tenha passado um mínimo de tempo no serviço público é capaz de ao menos imaginar alguns motivos para se emperrar a tarefa simples de jogar no lixo o que já não presta mais.

É bem possível que dona burocracia esteja refém de seus filhotes vaidosos, que, por preguiça funcional ou pequenez de seus cargos e de suas almas, estejam protelando ao máximo uma simples assinatura ou um carimbo banal, porque isso lhe traz uma idiota sensação de poder que ameniza suas frustrações pessoais.

A minha outra confirmação diz respeito a essa necessidade de ter e essa visão descartável do consumo que escraviza a cada ano mais a classe média brasileira, sempre inquieta com seus smartphones ultrapassados e seus televisores que não possuem as polegadas necessárias.

Nesta escola há dois irmãos gêmeos, que nos últimos dias frios em Brasília não têm aparecido juntos na aula. Um dia, vai um; outro dia, vai outro. Intrigada, a diretora procurou a mãe dos dois para saber o motivo. É que só há um casaco para os dois, e assim eles fazem revezamento para usá-lo. Vai à escola quem estiver no dia de usar o casaco.

Simples como jogar fora o que é lixo.

Moveis escolares

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