Todos nós ajudamos a pôr fogo no Itamaraty

O Estado e a sociedade estão recebendo a colheita de um longo período de plantação. Uma plantação de mais de 500 anos.

Os atos de vandalismo nas manifestações dos últimos dias, principalmente nas de hoje, como a tentativa de invasão e de incendiar o Palácio do Itamaraty, podem sim ser interpretados como o fracasso desse Estado em suas funções básicas.

Dar educação de qualidade é uma delas.

Como esperar respeito ao patrimônio público se a escola, por exemplo, não difunde essa noção de respeito? Aliás, se o próprio Estado dilapida e deixa que se esfacele pela ação do abandono seus prédios históricos, seus monumentos.

O vandalismo é também uma das garras de uma fera chamada violência do Estado, alimentada através dos séculos de nossa existência como país, no interior das delegacias, dos quarteis, presídios, nas simples revistas da polícia em ônibus da periferia.

Não, não sabemos o que é ser negro e pobre numa batida da polícia na periferia. Só quem é, sabe.

Dirão, acertadamente, que entre os boçais da agressão ao Itamaraty provavelmente só havia gente de classe média.

Sim, e eles exibem outra das garras da violência: a da sociedade, incluindo a mídia, que promove a paz em seu discurso e fatura em audiência com tiros e hemorragia nas telas, inclusive nas das, pretensamente de bom gosto, TVs a cabo.

Não estão isentos os telespctadores – e são muitos -, cujos olhos se deliciam com esse tipo de programação, que ganhou musculatura nos últimos anos – com o perdão da imagem que a ilustra – pelas lutas de UFC.

Nessa noite tensa de quinta-feira cada um de nós, mesmo condenando a estupidez, já ajudou um pouco a colocar fogo no Itamaraty.

1 comentário em “Todos nós ajudamos a pôr fogo no Itamaraty”

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