Hífen, esse imbecil
A língua pode ser espelho de um país. Acho que é o nosso caso. Linda. Rica em absurdos. E burocrática. Muito burocrática.
Entre as imbecilidades cometidas pela última reforma ortográfica, sem dúvida é destaque o que fizeram – e deixaram de fazer – com a imbecilidade-mor da língua portuguesa: o hífen. Formas absurdas, mas ao menos consagradas, de usá-lo desapareceram sem explicação. Outras ainda mais sem sentido brotaram da cabeça sabe-se lá de que gênio linguístico para perpetrar o inferno que é a vida de quem escreve em português.
Se o hífen fosse uma pessoa, seria o burocrata que, trancado e embolorado em seu gabinete em Brasília, se recusa a liberar dinheiro para quem morre numa catástrofe natural, por exemplo, tão somente porque o carimbinho que deveria constar às folhas tais do requerimento não tem o tamanho estipulado no parágrafo tal da portaria tal.
Antigamente, ainda enxergava alguma razão de ser nesse maldito tracinho. Era o caso de palavras com sentido próprio, que juntas formavam uma terceira. Hoje, o exemplo também me parece mais uma imbecilidade. Alguém deixará de entender que uma camisa é azul-escuro se não houver o infeliz do risquinho?
Por isso desisti de usar hífen, ou melhor, de me descabelar em dicionários e no google toda vez que deparo com a obrigação tortuosa de enfiá-lo no meu texto. Mas não vou fugir dele, esse bostinha empertigado. Usarei nos casos em que tenho certeza (ou acho que tenho). Nos que não tenho, deixarei pra lá. As duas palavras que se entendam sozinhas.
Quem achar por bem me corrigir, que o faça. Se eu tiver saco pra mudar, eu mudo.