Tony, Fátima e os arranhões de imagem da carne fraca

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É de se supor, com uma boa margem de convicção, que Tony Ramos jamais imaginou que o frigorífico do qual foi garoto propaganda enfiava pela nossa goela abaixo papelão e outras impropriedades de digestão difícil.

O tempo e a própria conduta nas vidas pessoal e profissional do ator vão se encarregar de desfazer qualquer mal estar inicial, mas é inegável que fica ao menos um leve arranhão de imagem nesses primeiros momentos pós revelação do escândalo.

É o mesmo caso de Fátima Bernardes.

Pelo que me recordo, Faustão fez propaganda de um carro chinês que começava a dar defeito logo que o comprador dobrava a esquina da concessionária.

Cidinha Campos, deputada e famosa radialista no Rio, posou na TV falando das maravilhas de um condomínio no litoral, cujas casas, pelo que também lembro, nunca foram entregues.

Baita prejuízo de imagem, que nos dois casos até acabou diluído por causa das asneiras que ele fala semanalmente na TV, e por causa da conduta política dela na eleição para prefeito no ano passado ao apoiar a candidatura de um sujeito que batia na mulher.

Definitivamente situações diferentes de Tony Ramos e Fátima Bernardes.

Anunciar bife da Friboi ou presunto da Seara deve melhorar consideravelmente as finanças no fim do mês, mas o absurdo revelado pela operação da Polícia Federal deve servir de alerta para quem tem imagem (boa) a zelar, porque a cada dia que passa, infelizmente, a desconfiança sobre tudo e todos deve ser usada como precaução inicial nesse país.

Pegue sua mulher e vá pra casa

Beto Barata/PR
Beto Barata/PR

Lamentáveis as declarações do presidente Michel Temer por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Se tivesse ficado calado, como se houvesse ignorado a data, teria lucrado mais.

Com os modos polidos com que costuma falar, Michel Temer reservou à mulher o único papel que a ela cabe no universo no qual certamente o presidente foi criado. Universo este que é o mesmo de quem o sustenta politicamente e de quem fez de tudo para que saísse quem estava antes no lugar que ele ocupa agora.

O que se poderia esperar de um Presidente da República no Dia Internacional da Mulher em pleno século 21, num país de tantas (ainda) desigualdades de gênero? Que ao menos se esforçasse para condenar a violência contra as mulheres, que falasse, mesmo que rapidamente, sobre as diferenças salariais, por exemplo.

Nenhuma letra sobre nada do que é realmente significativo quando o assunto é a mulher na sociedade atual.

Pra piorar, mandaram a primeira dama balbuciar também algumas palavras. Chegou a falar de realidade e intolerância, conforme deve ter sido ensaiado, mas daquela maneira bem insossa, que lhe é peculiar. Mas é compreensível. A cada mil países no mundo, dois no máximo devem ter uma primeira dama feito Michelle Obama.

Quando li o discurso presidencial, citei mentalmente Renato Russo: “Voltamos a viver como há dez anos atrás…”, mas de imediato me lembrei que dez anos atrás tínhamos um país pujante, como minha geração, nascida na ditadura militar, jamais viu.

Na verdade, voltamos a viver como 50 anos atrás.

Presidente, com todo respeito, pegue sua esposa e volte pra sua casa, para que o país possa primeiro retornar ao século 21 e depois tentar caminhar em direção ao futuro.

A dor que poderia ser de qualquer um

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Há muitos anos eu não chorava no cinema, acho que desde O Filho da Noiva, há quase 15 anos.

E ontem voltei a chorar. Chorar copiosamente, e por muito esforço não solucei.

E chorei porque o filme te faz sentir, quase que na carne e como se fosse tua, a dor do personagem.

Chorei porque o filme não dá lição piegas de superação e nem receitas encantadas para tal, mas porque mostra que não superar uma situação é sim, tantas e tantas vezes, algo muito normal e extremamente humano, que não nos faz pior do que ninguém.

E antes que eu me esqueça, independentemente de eu não ter visto os outros candidatos, Casey Aflleck deve realmente ter merecido o Oscar de melhor ator.

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