Passadistas

Saudades do Rio - UOL Fotoblog
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Um dos tipos de pessoa que mais me dão enfado são aquelas que acham que o passado era melhor.

À beira dos 50 anos, muitos de meus pares em idade dão o mundo por acabado, por exemplo, a partir do término do Led Zeppelin.

Algumas coisas quem sabe realmente eram melhores 30, 40 anos atrás. O futebol brasileiro e a Fórmula 1 são o que me ocorrem após algum esforço. Ou seja, nada com importância capaz de eleger o passado melhor do que o presente. Portanto, muito pouco para haver razão em ser passadista.

Mas os piores da espécie são os passadistas que se arvoram de politizados, e que não passam de analfabetos políticos sem conhecimento histórico (invariavelmente o segundo é condição obrigatória para o primeiro).

É aquele que ganhou espaço nos últimos anos, por causa das redes sociais, dizendo que na época da ditadura militar não havia isso ou aquilo.

Outro dia descobri um sujeito cuja referência do passadismo é mais recente. Encheu a boca para dizer: “Nem na época do Collor havia tanta bandalheira! ”.

Os dois casos confirmam o mal que faz a ausência do supracitado conhecimento histórico.

Na ditadura e no governo Collor ninguém gravava a conversa com ninguém.

E muito menos havia delação premiada.

Incompatível, imoral e inaceitável

Temer

Pode até não haver prova cabal de que Temer mandou comprar o silêncio do Eduardo Cunha, mas não há como deduzir outra coisa quando o dono do grande matadouro diz “O que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora: eu tô de bem com o Eduardo” e o Presidente da República de ocasião diz que “Tem que manter isso, viu?”.

Falta muito pouco mesmo para ser batom na cueca.

Essa é a parte da gravação que está, digamos oficialmente, ainda no terreno da forte suspeita.

Mas há outra que já galgou o patamar da imoralidade.

É quando o Presidente da República – o Presidente da República!!!!!! – ouve o dono do matadouro dizer que está manejando juízes e procurador de acordo com seus interesses.

Ouve e não fala nada. Exatamente. O Presidente da República, autoridade mór do país, ouve alguém dizer – com a maior naturalidade – que está interferindo na Justiça e fica calado.

É mais do que incompatível com o cargo.

É crime.

49 de idade, 30 de jornalismo

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Alguns dias atrás soube que fui preterido em duas oportunidades de emprego. O motivo não foi técnico. “Sabe como é, né? É aquele jeito explosivo dele…”, as pessoas confessaram a quem me trouxe a informação.

Profissionalmente, fui criado em ambiente de gritos, esporros e telefone na cara, o que atualmente – fácil, fácil – se chamaria de assédio moral.

Tive como chefes excelentes jornalistas, mas que não possuíam qualquer condição emocional de comandar uma equipe.

Tornei-me chefe de redação bem novo, aos trinta anos. Fui uma solução barata para a empresa para a qual eu trabalhava na época, Rádio CBN – Sistema Globo de Rádio. Fui pego pela gola, tirado em uma semana da minha cidade, trazido para uma outra em que eu jamais havia pisado. Quando cheguei, foi dito a mim após ser apresentado à equipe: toma, agora é com você, se vira!

Não tive qualquer capacitação para ser chefe, ou líder, na linguagem polida e moderninha dos manuais de administração. Enfrentei a coisa a partir do modo como eu via ser feito, e como disse acima, não tive sempre os melhores exemplos. E no meio da guerrilha que é uma redação, é claro que o emocional me venceu em vários momentos.

As pessoas que se referiram ao meu jeito em momento algum se preocuparam em perguntar se eu havia mudado. Não me veem há anos, não convivem comigo há outros tantos.

Quem trabalhou comigo de uma década pra cá sabe que não sou exatamente o Buda redivivo, mas passo longe de um modelo dinamite de O Diabo Veste Prada. Aprendi, de diversas formas, entre elas a dor, que precisava mudar.

Só que mais importante do que isso é dizer que jamais me vali de minha profissão para proveito próprio, pessoal. Nunca entrevistei ninguém para obter benefício posterior, nem que fosse um mero ingresso para teatro. Se me davam, era porque queriam, eu não pedia. Assisti a ótimos shows e peças de teatro, mas com a consciência tranquila de quem serviu à sociedade com o jornalismo.

Por que informação para mim é somente o que pode interessar à sociedade. Se é permuta de interesses pessoais entre o jornalista e o outro lado, virou corrupção.

Acho dispensável dizer que nunca pus a mão em mesada de político ou governos.

Como chefe, lancei muita gente no mercado. Quando a pessoa não correspondia ao que a empresa precisava dela, eu dava uma, duas, às vezes três chances. E se tivesse que dispensá-la, o fazia sem a fritura pelos corredores ou junto aos meus superiores.

Sofro de uma total falta de talento para fazer média com a cara dos outros. Sou amigo de quem gosto, e não de quem preciso. Se você que está lendo esse texto já foi a minha casa algum dia, saiba que esteve lá porque ao menos na época eu gostava de você, independentemente de você ser gerente geral ou operador de xerox.

E essas pessoas lá do começo do texto conhecem esse meu modus operandis tão bem quanto conheceram o meu outrora ‘jeito explosivo´. Mas a gente sabe que a balança humana sempre pende para o lado dos defeitos.

Hoje amargo um certo ostracismo na imprensa, sentindo e sabendo o quanto tenho a dar ainda ao país e à sociedade fazendo jornalismo com a energia física e mental aliada à experiência de homem e profissional.

Ao mesmo tempo, sei de pessoas que nem sempre prezaram pela conduta moral na hora de fechar uma matéria, entrevistar uma autoridade ou mesmo decidir quem empregar ou demitir de uma equipe e que estão muito bem, obrigado, no topo da cadeia alimentar.

É que falavam baixo, com aquela polidez de manual e sorriso inabalável.

Há poucos metros de fazer 49 anos de idade e com três décadas de jornalismo, paro para pensar se o mundo não é, então, dos sonsos e dos dissimulados.

Se for, que façam bom proveito dele.

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