O bafafá da vez

http://www.uai.com.br
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Não, eu realmente não levaria minhas filhas, que estão entre a infância e a adolescência, à exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo, motivo do bafafá da vez.

Não acho que estejam na idade de verem de perto um pinto adulto cheio de pentelhos.

Para mim, a nudez de um adulto carrega no geral uma erotização natural, mesmo que não seja a intenção.

Isso posto, ninguém tem nada a ver com a minha visão de pai.

E desde que não haja agressão ao direito da criança, ninguém tem nada a ver com a decisão de ninguém enquanto pai ou mãe.

Nem a direita nem a esquerda.

Na nota divulgada pela direção do Museu, está clara a informação de que na entrada da exposição há um aviso bem claro sobre o que será visto lá dentro.

Então, entrar ou não, com criança ou sem, é uma decisão de foro íntimo, que não diz respeito a ninguém.

Nem à direita nem à esquerda.

E isso deveria ser o suficiente para evitar qualquer bafafá.

A preocupação social como forma de sobrevivência

A elite brasileira precisa definitivamente deixar de ter olhos voltados apenas para seus lucros, rendimentos e conforto e se dar conta de que está, enfim, encurralada pela miséria social do país.

O recrudescimento da guerra urbana no Rio – alimentada em boa parte, convenhamos, pelos narizes chiques de Ipanema, Leblon e Gávea – é mais uma oportunidade para que os ricaços acordem.

As Unidades de Polícia Pacificadora atualmente só existem no papel porque, à época, a bem sucedida ação policial não foi precedida de qualquer planejamento para resgate social nas áreas carentes. Carentes de tudo, diga-se de passagem.

Agência O Globo
Agência O Globo

Os ricaços desse país, um clube de algumas dezenas com mais dinheiro do que milhões juntos, possuem todas as condições de cobrar do Estado a elaboração de um grande pacote, plano, estratégia ou seja lá que nome tenha, que traga, finalmente, justiça social. Até porque, a não ser em raríssimos episódios, quem sempre esteve com a mão no leme do Estado foi a própria elite.

Os governantes que serão eleitos em 2018 (isso se não acontecer nenhum outro desastre democrático) não podem pedir votos se não mostrarem consistentes planos de resgate social. Planos de governo que falem em escolas, em postos de saúde, em geração de emprego, em cultura, em esporte. Planos de governo que abram oportunidades para todos.

E tem ser algo tão levado a sério pela elite quanto são equilíbrio fiscal, reforma trabalhista, da previdência.

E a elite tem condição, tem força para exigir isso.

Ricaços

Porque senão a Lagoa- Barra vai continuar sendo fechada por causa de bala de fuzil partindo da Rocinha, e ninguém vai conseguir chegar com seu porsche no seu condomínio de luxo de frente pra praia.

Porque senão vai continuar triplicando o número de moleques no sinal dispostos a fazer besteira por causa de qualquer objeto que lhes encha os olhos e atice a cobiça.

Do jeito que a coisa vai, em pouco não haverá escolta armada, guarda patrimonial, carro blindado, cerca elétrica ou câmera de vigilância que deem jeito. Essa crosta de miséria vai invadir para tomar o que nunca teve e não vai pensar em poupar ninguém.

A elite precisa acordar e cobrar isso de quem ela própria escolhe e prepara para governar. E ela mesma pode arregaçar as mangas e pôr as mãos na massa. O que custa para uma grande empreiteira, por exemplo, construir – sem querer em troca benefício fiscal – uma escola em um bairro carente?

Em outras palavras, é pensar assim: ou a gente melhora a vida deles, ou eles vão, sim, acabar com a gente.

E como provavelmente não será por genuína preocupação social, que seja, então, pela própria sobrevivência e amor à pele.

De onde o Brasil nunca saiu

H

“O Brasil está andando para trás”, tenho ouvido nos últimos dias, depois que o juiz de Brasília desenterrou a imbecilidade da cura gay e o obtuso Movimento Brasil Livre conseguiu que fechassem a exposição lá em Porto Alegre.

A impressão clara é a de que há realmente um retrocesso, mas tenho uma quase convicção de que o pensamento dominante do brasileiro médio é – e sempre foi – na direção de achar, por exemplo, que homossexualismo é doença.

Esse mesmo brasileiro médio, uma massa uniforme ignorante da história do país e consumidor de informação tendenciosa e parcial, não acha apenas que ser gay é doença.

Ele também acha os negros inferiores e vê a mulher como dois tipos de objeto: de prazer e de uso doméstico para tarefas que ele culturalmente acha que não deve desempenhar.

Tivemos 12 anos em que os detentores do pensamento chamado progressista ocuparam o poder e conseguiram implantar no país uma agenda com mais direitos iguais e oportunidades para que nunca as teve.

A reverberação dessa conquista foi grande, levando a crer que o país estava mudando. Alguma coisa, realmente, se conseguiu. Pouco, perto da dívida social. Muito, para os que, até com orgulho, empunham preconceitos.

O país não andou para trás, porque simplesmente durante todo esse tempo maior que uma década o pensamento tacanho/mediano/majoritário esteve sempre lá, nunca mudou, apenas se manteve relativamente silenciado, porque não estava conseguindo fazer mais barulho que o sucesso do que lhe era, e sempre foi, oposto.

O problema é que quem administrava a agenda de conquistas e igualdades sucumbiu à podridão do poder – inclusive ao jogo espúrio para nele se manter -, e o brasileiro mediano, tendo a certeza de que foi roubado, voltou a gritar. Só que com muito mais ódio e ainda mais preconceituoso.

Por isso não acho que o Brasil esteja andando para trás.

De maneira geral, foi um país que nunca saiu de lá.

Lá de trás.
*
PS: Inaceitáveis e preocupantes a passividade e a falta de atitude do ministro da Justiça e do Comandante do Exército diante das declarações de um general do alto comando da Força aventando a possibilidade de intervenção militar no país. Tratar a coisa como bravata, como fez o comandante, é uma forma de apoiar veladamente a declaração. O que ainda me dá um pouco de esperança de que o caldo não entorne de vez é que, pelo que se sabe, se eles não estão conseguindo direito nem colocar comida nos quartéis, que dirá dar um golpe e tomar o poder.

O perigo escondido do moralismo

Provavelmente o assunto do qual mais se falou esta semana foi a exposição que o Santander resolveu fechar lá em Porto Alegre.

Como tudo que envolve esse Movimento Brasil Livre me dá extrema preguiça, só agora tomei pé da situação e resolvi dar um pitaco rápido (a gente, hoje em dia, acaba se sentindo na obrigação de ter e mostrar opinião sobre tudo. É tenso).

Vi pela internet as obras. Não vou opinar sobre o aspecto plástico, mas, rapidamente, sobre o cunho moral das obras.

Sem querer posar de progressista, não vi, realmente, nada demais.

noticias.gospelprime.com.br
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Como cristão convicto, não me senti agredido pelas obras que se utilizaram da imagem de Jesus. E acho que intenção de quem fez não foi essa.

O que me preocupa é essa gente que se arvorou em dizer que algumas peças fazem apologia à pedofilia. Olhei, olhei e, como pai, nada me assustou, ao contrário da própria grita do MBL.

Sempre desconfio quando alguém se lança ungido de moralismo contra o que considera um desvio de conduta (para mim, pedofilia é mais que isso. É crime repugnante). Nesse caso, acho que ficou mais latente justamente o moralismo do que a preocupação com a pedofilia em si.

Quando, por exemplo, um sujeito espuma raiva contra o homossexualismo, sempre desconfio que esse cara está ficando louco por que justamente não consegue mais conter a vontade de… vocês sabem.

Penso que é algo que qualquer estudante do primeiro ano de psicologia pode explicar: a vontade retesada, reprimida de se experimentar o que se condena.

Então, por esse ângulo, minha cisma serve até de alerta: não deixe sua/seu filha/o sozinho sob responsabilidade de alguém que está indignado com a exposição que o Santander fechou.

O moralismo esconde tanto obscurantismo quanto a censura.

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