A dura vida do freguês em Brasília*

Blog isyBuy | Gestão de restaurantes - isyBuy
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*Este artigo se aplica a muitas outras cidades brasileiras

O atendimento no comércio em Brasília tem melhorado nos últimos anos.

Atualmente é apenas ruim.

Agora há pouco fui tomar café na Kopenhagen do Conjunto Nacional. Bato ponto lá de dois a três dias na semana. Minha cara, portanto, não é exatamente uma novidade para as atendentes.

Aproveitando que uma delas passava pela mesa, pedi um café. E ouvi: o pedido é feito no balcão, mas tudo bem, vou atender.

Levantei imediatamente e lá fui eu mesmo cumprir as normas da casa, porque, por mais que a própria atendente fizesse o pedido, o tom ríspido e de advertência com que ela se dirigiu a mim comprometeu a relação da loja com o cliente. Por pouco não me tira a vontade de tomar café.

No domingo de carnaval, caçava algum lugar aberto para tomar um belo espresso no fim de tarde. Uma das poucas opções abertas era a cafeteria da Belini, que fica do outro lado da tradicional padaria, na comercial da 114 sul.

Era melhor que estivesse fechada.

Na fachada, a afetada expressão em inglês coffee experience tenta impressionar o freguês, porque certamente o atendimento não conseguirá fazê-lo, não positivamente.

Perguntamos se seria possível pôr uma mesa perto do jardim.

A atendente, com uma expressão que notoriamente denunciava uma espécie de raiva – talvez a de trabalhar no domingo de carnaval – alegou que não dava e apontou algum problema no telhado da loja, não lembro ao certo.

Falamos algo do tipo “ah, mas é tão agradável aqui, perto do jardim”, mas dissemos muito mais por lamento do que por insistência, ao que ouvimos com espanto um inacreditável “se quiserem pôr a mesa aqui, a responsabilidade é de vocês”.

A culpa não é das funcionárias, creio eu, em que pese em uma ou outra a falta de talento nata para atender pessoas.

Penso que há por parte dos proprietários desses estabelecimentos, franquias ou não, excesso de zelo com o preparo do cardápio e a decoração do lugar, mas uma grande desatenção com o fator humano no que diz respeito a treinamento ou mesmo contratação de funcionários, o que na ponta da corda é a desatenção com o consumidor, simplesmente a razão de o comércio existir.

É claro, na cidade existem ilhas de ótimo atendimento (La Boutique e Ces’t si bon, por exemplo, ambos na Asa Norte), mas ser freguês em Brasília, no geral, ainda é uma bad, very bad experience.

As duas pontas possíveis da tristeza

Foto: Suamy Beydoun/Agif/Estadão Conteúdo
Foto: Suamy Beydoun/Agif/Estadão Conteúdo

Independentemente de culpa ou inocência, Lula foi o melhor presidente que vi governar esse país ao longo dos meus 50 mil Km rodados.

Dane-se se surfou na onda de comodities ou sei lá mais que outro termo de economês afetado.

Não há como uma sentença, justa ou injusta, mudar o passado.

Fez menos do que queríamos, do que dizia que faria e do que precisávamos.

Mas fez mais do que os outros, principalmente por quem precisava muito e vivia com menos do que migalhas.

Mudou, perante o mundo, a imagem de cachorro sarnento que o Brasil sempre teve, e que voltou a ter.

Por isso, sua prisão tem duas pontas, as duas, de tristeza.

Se há culpa, é a maior desilusão da vida política nacional.

Se não há, é desanimador comprovar que a nossa não democracia continua se vestindo de várias formas, inclusive com a toga da legalidade.

A estupidez sem lado

Estupidez

Agora há pouco alguém postou na rede social conclamando as pessoas a espancarem um milico, como forma de fazer um bem à sociedade.

Ou seja, quando é contra o que eu não acredito e combato, a estupidez se justifica.

O discurso do ódio – e de incitação ao crime – vestido de liberdade de opinião só mudou o alvo.

A cegueira no país é grave.

Dos dois lados.

A amarga insistência da dúvida

Batom na cueca

Ao contrário de muitos conhecidos meus, não tenho qualquer segurança para erguer o braço e gritar “Lula é inocente!”.

Da mesma forma, estou longe da convicção de que o processo caminhou com o rigor jurídico necessário, elemento básico para que a Justiça seja feita.

Muita coisa me deixa confuso, desde a ausência do batom na cueca (chamado de prova cabal no juridiquês) no processo até o espetaculoso power point do promotor.

Na reta final, no Supremo, o ministro que era a favor vira contra; a ministra que era contra vira a favor.

E, por último, o juiz decreta a prisão mais rápido do que em qualquer outra situação da lava-jato.

Parabéns aos que possuem convicção nesta hora.

Minha única certeza é de que nunca senti nesse país um clima tão pesado e desfavorável à liberdade como agora.

Algo além da caserna

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Em um primeiro momento, o silêncio (até agora) de Michel Temer sobre as declarações inoportunas do comandante do Exército acerca do julgamento de hoje no STF me lembraram da nulidade de José Sarney em seu último ano de governo.

Com a popularidade lá no dedão do pé, a exemplo do atual mandatário do país, Sarney não fedia nem cheirava para a nação. Uma declaração de Mailson da Nóbrega, então ministro da Fazenda, fazia muito mais eco na época.

Ainda num primeiro momento, a mudez de Temer me sugeriu medo mesmo, cagaço do falar grosso das fardas e coturnos.

Mas não, rapidamente mudei minha interpretação.

Acho que Temer mandou o ministro Raul Jungman, chefe da segurança na área federal, dar uma justificativa protocolar em nome do governo sobre essa tentativa de intimidação que partiu da esfera superior da caserna.

TCU-MichelTemer-RenanCalheiros-EliseuPadilha-RaimundoCarreiro-SergioLima-14dez2016

Tenho pra mim que o general mór falou com a anuência do Presidente da República, que é, inclusive, o chefe das Forças Armadas, como reza a própria Constituição que os militares dizem tanto fazer valer.

Anuência ou mesmo determinação, fazendo com que a tentativa de intimidação ao STF tenha na verdade origem em instâncias bem superiores aos quarteis.

Do contrário, que chefe admitiria uma declarações dessas sem dar um tapa na mesa e dizer em bom português “cala a boca que quem manda aqui sou eu!”

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