J’avoue que j’ai vécu (Confesso que vivi)

Reprodução FB A.Marino
Reprodução FB A.Marino

Do nada me cai no colo deliciosa lembrança trazida pelo poeta Alexandre Marino.

Na foto, página do (saudoso) Jornal do Brasil com a matéria assinada por ele, que também é jornalista.

Je Vou Salue Marie acho que foi o primeiro grande desafio de um país que saía da censura como um todo, inclusive na cultura.

O filme de Jean Luc Godard mostrava Maria – mãe de Jesus – como uma garota normal, que engravida de uma maneira normal (como Maria engravidou, diga-se de passagem).

O conservadorismo caiu de pau em cima, querendo proibir o filme no cinema.

E conseguiu.

Sarney era o presidente e cedeu à pressão: a censura estrebuchava, mas ainda dava uns gritos.

O Marino conta bem tudo isso na página dele, veja lá.

Eu era um moleque de primeiro período de faculdade de comunicação, um tanto longe ainda de uma redação, e vivi, justamente como estudante, toda essa polêmica.

O DCE da minha faculdade conseguiu uma cópia clandestina do filme e a exibição foi feita num cantão meio escondido do campus, porque, pelo que me lembro, a direção da faculdade (Estácio de Sá, no Rio) também não via com bons olhos aquela coisa da mãe de Jesus ter tido relação sexual.

Eu fui na exibição, um pouco por ideologia política, à época ainda incipiente, e muito mais pela bagunça.

Por isso achei o filme chato pra cacete, e dormi na sessão.

Embora já universitário, minha pobre cabecinha ‘tava ainda mais para Spielberg do que para Godard.

Mas essa lembrança que o Marino me trouxe, nessa tarde isolada de quarentena, é aquele conforto que a gente sente quando percebe que a vida passou, e que a gente viveu.

Tipo aquela bala que a gente tirou o papel todo, bem devagar, e chupou toda, até o fim.

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