A cidade incompreensível

Certas coisas em Brasília acabam explicando outras que acontecem nessa cidade incompreensível, capital de um país difícil de entender.

O cidadão que precise de um nada consta nas áreas cível e criminal obtém a certidão gratuitamente na Justiça Federal.

O mesmo ocorre no âmbito dos tribunais superiores e no Banco Central. É de graça comprovar que você não cometeu crime eleitoral, não está enrolado com a Justiça Militar nem se beneficiou de esquema financeiro suspeito.

Entretanto, uma simples certidão que diga que você não deve nada à Justiça e muito menos à Polícia do Distrito Federal sai por 45 pratas. Por que quando peço, a União diz de graça que a minha barra tá limpa, e pro DF fazer o mesmo eu tenho que meter a mão no bolso? Por que uma inocência é grátis e a outra, cobrada?

É de se imaginar os rios de dinheiro que correm numa cidade que a cada segundo sabe-se lá quantos mil precisam provar que são íntegros e honestos.

Quando se vive aqui, percebe-se que os baronatos, entre eles os cartórios, construíram suas riquezas a custa do favorecimento do estado, tanto no âmbito da execução, quanto no da elaboração das leis. Tudo, é claro, com uma boa recompensa a quem executa e a quem legisla.

Pagar para provar que se é inocente é lei em Brasília. Portanto é legal, mas, ponto pacífico, o que é legal não é necessariamente moral.

Discrepâncias como essa da certidão explicam ao morador de Brasília porque, nessa cidade que não possui indústria, e cuja arrecadação vem basicamente da prestação de serviços, BMW virou fusca, Porsche não é mais novidade e o trânsito de Ferraris está cada vez mais intenso.

E hoje, certamente, para mostrar que não sou ladrão, assassino ou picareta, contribuí para aumentar a frota de carrões na capital do país.

1 comentário em “A cidade incompreensível”

  1. Carlos Oliveira

    André, isso é incompetência administrativa. A meu ver, governar o DF é muito mais fácil que qualquer outra Unidade da Federação. É que boa parte da população prefere Porshes e BMWs ao bem comum. Eles têm o direito, claro, só que de forma lícita. Tomara que a maioria seja resultado do trabalho limpo.

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