Testemunhar a conquista de um filho nos traz igualmente a sensação da vitória.
Quando dobram alguma dificuldade, ultrapassam obstáculos, obtêm êxito em desafios é um pouco (aliás, um muito) de nós que também sai vencedor.
Nossa dedicação não deixa de estar ali consagrada.
Pela minha lembrança, o primeiro desses tantos momentos é quando a criança aprende a andar, quando solta de nossas mãos e vai pela casa, pela calçada, confiante já em suas próprias pernas.
O segundo certamente é quando aprendem a andar de bicicleta.
Por esses dias, pela terceira vez em minha vida de pai levantei esse troféu imaginário.
Após alguns dias de tombos e choro, minha filha mais nova saiu pedalando pelo jardim, enchendo de gritos de alegria (meus, dela e das irmãs) a noite de verão.
O equilíbrio inseguro foi se firmando a cada vai e volta emocionado da novidade, conquistada também com um pouco do meu esforço em lhe transmitir amor e confiança.
Vendo-a se distanciar no longo corredor embaixo do prédio e dominar o mistério de se mover sobre duas rodas, sobreveio-me a orgulhosa impressão de que estou colaborando para que, quando realmente estiver longe de mim, saiba se equilibrar também na vida.
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André Giusti
Do Livro As Estranhas Réguas do Tempo (Crônicas, Editora Multifoco, 2014)
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