Barão perfeito

Perfeição causa espanto por que não se encontra a toda hora.

Um carro esportivo italiano, um vinho francês, um escritor como Gabo. Uma banda de rock brasileira com 30 anos de estrada.

O Barão Vermelho sabe exatamente o que faz, e faz com tanta perfeição que às vezes nem dá vontade de dançar, mas ficar quieto no show, observando-o tocar, sacudir a própria Terra e o resto da galáxia.

Não fosse a perfeição, seria a alegria de ser uma banda de Rock’n Roll autêntico, sem arranjos moderninhos e chatinhos, sem letras em espanhol. Alegria de tocar músicas perdidas na voz de Cazuza no primeiro disco. Ei, geração Z! Você sabia que o Cazuza era o vocalista do Barão no início? Aliás, geração Z, você sabe quem foi o Cazuza?

O chamado BR Rock teve quatro bandas realmente grandes, sendo que, além do Barão, outras duas estão ainda em atividade. A quarta não teria sentido existir sem Renato Russo.

A diferença é que os Paralamas e os Titãs não empolgam mais, e precisam, muitas vezes, se apresentar juntos para ver se em dupla conseguem ser um. O Barão, sozinho, tem a pegada de cinco, seis, oito.

Se fossem pessoas, por exemplo, homens de meia idade, Paralamas e Titãs seriam flácidos, barrigudos, sedentários. O Barão seria o tio sarado, que se alimenta bem, vai pra academia todo dia e pega menininha.

Machado e Assis não é mundialmente famoso porque escreveu em português. É o caso do Barão. É impensável, para o mundo, Rock’n Roll na língua de Camões. Não fosse isso, e colocássemos lado a lado o Barão e essas bandas estrangeiras contemporâneas, insípidas na sua maioria, não ia ter pros gringos não.

2 comentários em “Barão perfeito”

  1. Marcelo Guido

    Vou discordar um pouquinho de você meu amigo, e já te explico porquê.Outro dia ouvi a notícia do encerramento da turnê dos 30 anos do Barão. De repente, percebi que havia perdido a oportunidade de vê-los em ação em sua derradeira performance. Pelo Frejat, parece que a volta é praticamente impossível. Já ví vários shows do Barão, mas ficou aquele gostinho de: putz, e agora?

    Me veio a lembrança do show do Titãs que (ainda bem) vi em 2010. O público (pequeno para o peso e a história da banda) provavelmente compartilhava da mesma sensação que você: esses velhinhos flácidos não empolgam mais ninguém. Mas foi só o show começar que todo o vigor daquele Titãs de antigamente apareceu com toda a força. Aconteceu o que você falou: não conseguia nem dançar porque não queria perder cada segundo daqueles caras no palco. Daquela apresentação especificamente. Porque já vi dezenas de shows do Titãs (sou um cara velho) e posso arriscar: os caras estavam bons como sempre e como antes. E o mais legal é que esse show foi aqui em Franca, cidade dominada pelo ritmo sertanejo. Ou seja, os caras podiam vir aqui “cumprir tabela” e pronto. Mas foi exatamente o contrário. Fiquei mais fã do que já era e agradecido por estar ali.

    No caso do Paralamas, que também assisti há pouco tempo, tenho de concordar com você. A força, o vigor e (talvez) a vontade de estar no palco, caíram junto com o ultraleve.

    abraço!

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