O chique de ser ateu

Percebo certo destaque quando se fala ou escreve sobre José Saramago para o fato de ele não acreditar em Deus. Pode ser impressão minha, mas há uma inclinação em ressaltar o ateísmo como algo que reforce a intelectualidade de determinada pessoa.

Não me parece que Frei Betto, por exemplo, tenha menor capacidade intelectual do que Saramago, mas há muito artigo, resenha ou ensaio sobre variados temas que, sutilmente, querem nos levar a crer que o intelectualmente chique precisa ser ateu. Acho que isso se acentuou com a crise declarada na Igreja Católica pela renúncia do Papa.

É mesmo difícil para a inteligentzia mundial aceitar o Deus tirano e vingativo que nos fizeram engolir durante séculos. Mas inteligência e cultura oferecem sempre instrumentos para se pensar em possibilidades diversas. Uma delas é a de um Deus que não aja como feitor de escravos. A outra é admitir (e aceitar) a própria dificuldade em se explicar Deus. Mas talvez neste ponto entre a soberba de certos intelectuais: o que eles não conseguem explicar, simplesmente não existe.

O fato é que me parece rasteiro diminuir o valor de um intelectual que declara fé em Deus ou em outra entidade. É como decidir que um ateu não possa ser pessoa piedosa, fraterna e solidária, o que, aliás, deve ser o mais importante para Deus, no caso de ele existir realmente.   

2 comentários em “O chique de ser ateu”

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