
A poesia de Damião Cordeiro mistura lirismo, erotismo, regionalismo, humor e crítica social em traço poético elegante, forte e, eu diria, requintado e até rebuscado.
Um belíssimo livro de poemas desse autor que, com estilo próprio, nos leva a passeio pelo sertão de Riobaldo e Diadorim.

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Eu acho que esse ódio todo contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma tentativa desesperada de disfarçar uma irrefreável vontade de dar o rabo.
Só acho.
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Tenho três livro publicados pela Penalux: A Maturidade Angustiada, A Solidão do Livro Emprestado (2ª edição) e De Tanto Bater com o Osso, a Dor Vira Anestesia.
Sou bem satisfeito com o trabalho da equipe comandada pelo Tonho França e pelo Wilson Gorj, que recebem toneladas de originais e quando apostam em um livro, certamente é porque ele passou pelo crivo literário aguçado dos dois.
Então me senti honrado quando Wilson Gorj me enviou um exemplar de seu romance recente, A Inevitável Fraqueza da Carne, pedindo (vejam só!) minha opinião.
Em suma, um editor pedindo opinião de um autor; mas em tempos em que o Botafogo pode ser campeão brasileiro com uma razoável diferença de pontos, tá valendo.
Curioso, abri o livro e em pouco mais de uma semana dei cabo das 157 páginas do romance, que é uma história dentro de outra história, algo nem sempre fácil de fazer, mas que Wilson Gorj faz acertadamente, certamente se valendo não apenas do talento de escritor, mas também de sua bagagem de leitor e da sua tarimba (ô, palavra antiga) de editor.
Contando um drama familiar, com resvalos em crise conjugal e relação pai-e-filho conturbada, A Inevitável Fraqueza da Carne tem várias qualidades e, entre elas, a principal de um livro: segurar o leitor, fazer com que ele vá até o fim.
Não sou dono de editora e jamais serei (minha relação com elas será sempre a de bater na porta), mas se eu fosse, publicaria o livro do Wilson.
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Georgino Neto e eu somos do mesmo universo.
Embora ele seja torcedor do Galo Mineiro e eu pertença à Nação Rubro-Negra – e isso nos coloque em polos opostos -, somos do mesmo espectro poético.
A poesia desse poeta de Montes Claros, que tive o prazer de conhecer exatamente um ano atrás, quando tive a alegria de ser homenageado pelo Psiu Poético, fala das coisas mais importantes da vida de um homem (e é nisso que me irmano a ele): as coisas simples, aquelas que as pessoas, no geral, não prestam atenção porque estão ocupadas com o que não importa.
A poesia de Georgino (ele escreve contos também) tem cheiro de café novo, tomado na varanda para se ver a tarde cair.
E tem mais: sabe aquela alegria eufórica, provocada pela primeira cerveja que se toma esperando sair o almoço de sábado? Pois é, a poesia do Georgino me dá essa tontura, essa alegria em estar vivo.
Aliás, é isso mesmo: a poesia de Georgino Neto é a de um cara que procura cumprir corretamente sua missão nesse planeta ameaçado, e com isso estar em paz enquanto estiver por aqui, enquanto alguma força superior em que se possa acreditar deixar que fiquemos.

Sua poesia não tem a pretensão literária que aremessa tantos de nós, autores, no poço escuro da pedância.
Ele mesmo outro dia se confessou um poeta de feici búqui, “Sem gravidade literária ou virtuose linguística” , embora sua poética tenha lastro para estar em livros, blogs do métier e afins.
Se a ambição passa longe do poeta, ele segue enriquecendo a pobreza mediana da rede social.
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Cerveja artesanal é muito bom, você bebe e não pesa, acorda no dia seguinte sabendo quem é e o que fez na noite anterior.
Mas essa história de cerveja com gosto de maracujá, manga, laranja, pitanga, café… sei lá, me parece excesso de gourmetização, ou, em bom português, frescura mesmo.
E se não gostamos, nos olham nos sentenciando de antiquados, retrógrados, anacrônicos, obtusos, de mentes fechadas ao novo, fósseis de dinossauros perdidos em 1980.
O mundo de hoje às vezes me dá sono.
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Berro é o mais recente livro do multifacetado Leonardo Almeida Filho, que, além de escritor, é compositor, músico e artista plástico, e tem se tornado um grande companheiro na lida da literatura e nas discussões sobre a existência de um modo geral.
O livro ainda respira o ar da obra que o antecede, o romance Os Possessos, e embora sejam gêneros distintos, acho que o Leo foi ainda mais feliz em Berro, embora o romance tenha muito valor e valha a pena ser lido.
É que no caso desse livro mais recente, prossegue o esmiuçar das mazelas da sociedade brasileira e suas faces mais cruéis, trazidas à tona com mais intensidade de 2013 para cá e aguçadas a partir de 2018.
No entanto, em Berro, Leonardo Almeida Filho abre mão, acertadamente, de um tom panfletário que permeava seu romance, pertinente naquele caso, mas que seria excessivo em seu novo trabalho, o livro de contos.
Berro traz, em suas 145 páginas, algumas pérolas do conto contemporâneo, como O Capador, Inventário e a própria história que dá título à obra e encerra o livro. E isso para ficar em apenas três exemplos.
Não sou crítico, apenas um leitor que se intromete a dar dicas de leitura quando gosta do que lê; menos ainda entendo dos prêmios do mercado editorial, mas essa minha porção atrevida e palpiteira se arrisca a dizer que Berro tem todas as condições de disputar alguns canecos do mundo do livro.
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Essa foto é do restaurante Taioba, no Espaço do Servidor, no Senado Federal, em Brasília.
O que as pessoas que almoçam no local desperdiçam de comida talvez pudesse dar de comer a umas duas ou três famílias de gente que estica as mãos Brasil afora, pedindo, morta de fome, sem ter o que pôr no prato.
Se o que eu digo é achismo ou não, se meu cálculo não é exato, não sei se é o mais importante perante o flagrante de comida jogada fora em um país em que boa parte morre de fome (ou tem insegurança alimentar, para ser tecnicamente chique).
Qualquer realidade só começa a mudar a partir da nossa própria mudança (mas isso se quisermos realmente mudar alguma realidade)
(Em tempo: aquele prato ali na foto, vazio e sujo de feijão, era o meu).
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O (belíssimo) livro Manual de Desinstruções, de Rogério Bernardes, é, na verdade, um grande manual de informações
Informações sobre a dor e angústia de nem sempre (ou em boa parte das vezes) ser aceito pelo que se é.
De não ser aceito em alguma medida por quem amamos e por quem também nos ama mas que, por alguma incapacidade que nem mesmo o amor consegue transpor, finge que não enxerga a verdade.
E seguem nos amando. E nós seguimos amando.

É um livro sobre aceitação, sobre aceitar as pessoas que amamos do jeito que elas são, para que libertemos quem amamos da dor de não ser aceito, mas, antes de tudo, de libertarmos a nós mesmos de fingirmos não ver a verdade e, dentro da verdade, a necessidade urgente de lutarmos contra os nossos preconceitos.
É um livro de informação (ou de instruções, para que o paralelismo com o título seja mais exato) sobre como a bela poesia pode ser tão cortante e profunda feito chorar no escuro do quarto no meio da madrugada.
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Tenho uma relação histórica com Joan Jett.
O épico álbum I Love Rock’n Roll, de 1981, foi o primeiro disco que comprei na minha vida.
Passei mais de um mês indo e voltando a pé da escola e sem merendar (alguém se lembra do verbo merendar?) no recreio para juntar dinheiro e comprar o belo vinilzão na seção de discos do Boulevard, um hipermercado que funcionava na antiga Fábrica de Tecidos Confiança (a mesma da música Três Apitos, de Noel Rosa), na Aldeia Campista, um elo perdido entre os bairros do Andaraí, Tijuca e Vila Izabel.
Juntar dinheiro um mês para comprar um disco: algo impensável para a geração dos jovens de hoje, que baixam um álbum deitados na cama, às três da manhã.
Mas essa ligação não ficou apenas na historicidade.
Acho Joan Jett uma baita vocalista/intérprete e guitarrista e adoro aquela sua eterna pinta de garota-problema, mesmo aos 65 anos.
Ela está de disco novo, Mindsets, que, pelo que acompanho, é o primeiro de inéditas em dez anos.
A mesma voz rouca e rasgada, a mesma guitarra lá em cima, com rifes que grudam, que fazem querer dançar e acelerar o carro na estrada, o mesmo tudo que sempre me conquistou como fã.
Além desse álbum, no ano passado ela lançou Changeup, com versões acústicas de seus grandes hits e algumas faixas lado B.
Sim, é um disco de Rock acústico, para espanto de uma de minhas filhas: “Como pode, pai, Rock acústico?”.
Mesmo com as guitarras desligadas, a música de Joan Jett carrega a inquietude e a pulsação desse gênero que continua sacudindo demais minhas veias.
É como se as canções dissessem: “Ok, estamos apenas disfarçadas de baladas, mas somos mesmo Rock’n Roll”.
A música I Love Rock’n Roll, seu grande hit, não entrou no disco. Talvez sem a guitarra ela pareceria uma grande casa vazia, sem móveis e sem gente e Joan não quis chocar os fãs mais radicais.
Mas isso não compromete o disco. Ele é maravilhoso, como é e sempre foi maravilhosa (ao menso para mim) a rainha do Rock’n Roll.
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Cerca de 30 anos atrás eu era repórter da TV Band, no Rio, e como meu horário se esticava até umas dez da noite, eu costumava cobrir passagens de som de shows e ensaios de peças de teatro.
Numa dessas, entrevistei Aracy Balabanian.
Ela ensaiava uma peça em que interpretava ninguém menos do que Clarice Lispector (a montagem contava a vida da escritora).
Acho que do meio artístico e entre os chamados globais foi a pessoa mais simples, simpática e luminosa que entrevistei em minha vida de repórter faz tudo.
Uns cinco anos depois, passei a compor a mesa do Sem Censura, na TVE, com Leda Nagle no comando, e ali o que não faltava era atriz/ator a dar entrevista.
Eu participava uma vez por semana e nunca calhou de Aracy estar no meu dia no programa.
Passei dois anos no Sem Censura e entrevistei dezenas de famosos da telinha.
Aracy não perdeu sua liderança no meu humilde ranking de simpatia, simplicidade e luminosidade.
Certamente isso está contando a favor dela agora, quando bate à porta do outro mundo.
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