Lost in love

Teu rosto se projeta
E se eleva
Na parede do meu quarto,
Desenhado em azul
Verde
Vermelho
Prata
Dourado
Feito luzes de boate.
O que o reproduz
São as notas
Daquela música
Que dançamos colados
Naquela noite
de uma sexta-feira
de setembro
aqui mesmo
nesse apartamento
espremidos
entre o sofá e a estante.

Aquela noite
De sexta-feira
Em setembro,
Que continua acontecendo
Em algum momento
Da eternidade.

*
André Giusti

Em qualquer lugar do mundo

Quando você estiver
Dormindo na poltrona
De um imenso boeing
Cruzando o Atlântico;
Na mesa de um café em Paris,
Que a maioria
Conhece apenas
de quadrinhos coloridos
de feiras de artesanato;
quando estiver em uma banheira
num quarto de hotel em Istambul
numa rua poluída de Pequim
mergulhada no mar
na Bahia Noronha Maragogi
ou finalmente em casa
na parte de cima
do sul do Equador,
saiba que também estará
um tanto um muito pra sempre
no lado esquerdo
de uma cama desarrumada
ou forrada
com a velha colcha suja e manchada
no fundo de um minúsculo
apartamento de paredes encardidas
quarto sala cozinha tudo junto
no meio pro final da Asa Norte
no coração
do Planalto Central do Brasil.
*

André Giusti

As nuvens de Brasília

O céu de Brasília não seria o que é sem as nuvens de Brasília, certamente as mais belas que já vi na vida.

Penso que não passaria de uma imensa monotonia azul.

Em tempo: esse post não tem musiquinha mala do Djavan falando do “traço do arquiteto”.

Inteligência artificial, preguiça natural

A entrevista de uma autoridade a um portal de notícias de destaque aparece carregada de erros de concordância e pontuação.

Está disponível na versão escrita e em vídeo, no Youtube, e é isso que explica tantos deslizes na primeira opção.

É que eles, os erros, vieram da conversa gravada em vídeo, em que os ataques à forma correta de se falar o português não podem ser corrigidos posteriormente em uma edição.

Mas na transcrição para a versão escrita podem. E devem.

Só que o problema é que essa transcrição foi feita sem dúvida alguma por inteligência artificial.

E ao que parece, publicou-se claramente o que o tal chatgpt cuspiu ao partir da conversa entre entrevistador e entrevistado, e não se tomou o cuidado de ao menos se dar uma rápida olhadela que fosse.

Certamente a IA nos ajuda, e muito, mas acho que não nos isenta totalmente do trabalho.

Quando conto, alguém, defensor / adorador da tecnologia, explica com ênfase que o chatgpt poderia ter corrigido os erros.

Não sei, não discuto, nada entendo de IA (e muitas vezes me falta a natural), mas se isso realmente é possível, acho que prevaleceram, neste caso, a preguiça e o desleixo naturais, que, pressinto, ganham bastante musculatura nesses tempos de facilidades oferecidas pela tecnologia.

A tardia balada dos inábeis (poema inédito)

Ao modo de Georgino Neto, poeta de Montes Claros (MG)

Passou o tempo
De você aprender
A tocar gaita,
A falar inglês
De verdade.
Agora não tem
Mais cabimento
Fazer aulas de pintura
Entrar numa escola
De mergulho,
Lhe ensinarem
A andar de moto.
Fique apenas
Com sua única
habilidade:
A de escrever
Histórias tristes
(e poemas ainda mais)
Que possam comover,
Quem sabe,
Os inábeis feito você.
*
André Giusti, 2024

Sergio Tavares fala sobre Só vale a pena se houver encanto, meu 1º romance

O escritor e crítico Sérgio Tavares, prêmio Sesc de literatura e publicado em países como Portugal, fez uma breve resenha de meu primeiro romance, Só vale a pena se houver encanto, que está em pré-venda e será lançado provavelmente em dezembro, pela editora Caos e Letras, a mesma que publicou no ano passado As Filhas Moravam com Ele, um livro de contos que foi semifinalista do Prêmio Oceanos agora, em 2024

Em 2022, Sérgio fez uma leitura crítica aguçada e rigorosa de Só vale a pena se houver encanto.

Seu trabalho foi decisivo para a qualidade do livro, repito, meu primeiro romance.

Ele tem, portanto, toda autoridade para falar do trabalho.



Só vale a pena se houver encanto está em pré-vendano Catarse.

Agradeço muito o seu interesse em adquirir.

Só vale a pena se houver encanto – pré-venda

Foram onze anos de trabalho e, pelo menos, cinco versões, mas, enfim, meu primeiro romance está ganhando o mundo.

Também pela editora Caos e LetrasCaos e Letras, ele entrou hoje em pré-venda na Catarse.

A pré-venda é uma etapa imprescindível para um livro que está sendo lançado, pois o que se arrecada nessa fase dá um impulso fortíssimo à edição.

Se eu puder contar com sua ajuda, estarei sinceramente agradecido e com uma alegria imensa em ter você como leitora ou leitor, porque, afinal, na vida, Só vale a pena se houver encanto

O cerrado ou nós?

Um mês atrás, o país estava ardendo em chamas.

Lembram-se?

No meio do fogaréu (criminoso em sua quase totalidade), as labaredas consumiam também a Floresta Nacional de Brasília, a Flona, como chamamos aqui, e uma das maiores e mais belas reservas do cerrado.

Um mês depois, e com apenas uma semana de chuva, a vida renasce em meio às cinzas e à terra preta, resquícios do incêndio, trazendo aos nossos olhos o verde das plantas e folhas das árvores e o colorido e o perfume das flores exóticas desse ecossistema extremamente diferente.

O cerrado é o bioma mais devastado no país, mais do que a Amazônia.

O problema é que, ao contrário desta, não recebe dinheiro dos fundos internacionais voltados ao meio ambiente, então o governo (não apenas o atual) não mostra para a plateia sua montagem cênica de
preservação e combate ao desmatamento.

Para falar a verdade, nem sei se gringo sabe o que é cerrado e muito menos que ele existe.

Na paisagem de renascimento da Flona, o cerrado parece dizer ao ser humano: você tenta me matar, mas eu não morro.

“Ele não acaba não. Capaz de todos nós irmos embora e ele ficar aí”, me disse, otimista, uma companheira de trilha (sim, sou trilheiro).

Tomara que ela esteja certa.

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