“Questãs”

Renan Olaz/CMRJ

1 – O Estado NO Rio de Janeiro – e não o Estado DO Rio de Janeiro – é podre. Ou será que lá a podridão vem à tona?

2 – O delegado envolvido no crime foi nomeado um dia antes para a chefia da Polícia Civil pelo general golpista, candidato a vice na chapa do jumento fascista. Será que não precisa ser investigado?

Resenha – As Filhas Moravam com Ele, por Aloísio Sá

Estive em Belo Horizonte participando do Psiu Poético BH e o Ádley Carvalho organizou uma cervejada para me receber, em uma noite que guardarei para sempre em minhas melhores memórias afetivas. Foi aí que conheci o Aloísio Sá. Ele comprou As Filhas Moravam com Ele e me brindou com essa resenha que me deixou nas nuvens.
*
Acabei neste instante a leitura deste livro que iniciei ontem à noite.

Conheci o moço muito rapidamente e conversamos apenas banalidades.

Como estou numa entressafra de livros (comprei cinco e nenhum chegou ainda), me lembrei que este estava lá embaixo, em algum lugar.

São vinte histórias contadas sem enrolação, “na lata”, como se a vida fosse por aí. E é.

Os personagens quase sempre são trágicos e os acontecimentos poderiam estar estampados em jornais desses de cinquenta centavos.

Mas nos jornais não tem literatura, não tem poesia, os mortos dos jornais não têm nada além de nomes; os de André Giusti, não. Eles têm vida, têm literatura, têm nomes, têm sentimentos, têm poesia e têm alegria e dor. Têm passado e parecem não ter futuro. Têm presente e parece que seguem a vida como se fosse no sistema do “assim que dá pra levar”, “a gente vai levando…”.

Literatura é um prato frio que se come com amor e coragem, que se escreve com dor e paciência.

Eu, lendo trechos do livro, na Casa da Floresta, no Psiu BH

Aqui tem um lirismo que corta a pele até sangrar, aqui a vida é dura pois a vida é dura e sem candura.

Todas as histórias nos levam a reações variadas. Eu ri e me emocionei, separei trechos de poemas que encontrei em vários trechos da mesma história.

André Giusti usa as palavras como quem usa um estilete com habilidades para recortar sentimentos e enebriar nossa mente e nosso coração.

Eis aqui a literatura que eu bebo até ficar alegre e triste, feliz ou insuportavelmente infeliz e cair em prantos.

Amigos, parentes e leitores nem sempre são as mesmas pessoas*

Após vinte e sete anos publicando livros, aprendi algumas pequenas coisas.

Duas delas reparto aqui, porque talvez sejam úteis para uma meia dúzia de três ou quatro que começam a se arriscar no mesmo caminho.

A primeira é sobre a noite de autógrafos.

Aprenda que aquela pessoa que não foi ao lançamento dificilmente comprará seu livro depois.

Não nutra esperanças no caso da velha promessa: “Ah, eu não vou poder ir, mas quero comprar depois, e autografado”.

Esse tipo de pessoa até existe, mas não lota um fiat mille. E se o livro for de poesia, elas cabem numa moto.

Laurentino Gomes, autor da trilogia Escravidão

A outra coisa é pensar em ter leitores, e não compradores de livros.

Portanto, dispense do desembolso aquele seu grande parceiro, que te adora, que você adora, mas que o último livro que ele leu foi no segundo ano da faculdade. E mesmo assim no resumo.

Então, não espere que ele diga que gostou ou detestou, simplesmente porque ele não vai ler, porque ele não é leitor, nem seu nem de ninguém.

Não queira vender livros por amizade, isso não terá o efeito que você esperava quando abdicou parte de sua vida para ficar na frente de um computador. O único efeito será o numérico.

Tenho grandes amigos, e mesmo parentes que considero, que jamais leram uma única linha que escrevi nesses mais de quarenta anos de ofício.

Não deixaram de ser meus amigos, e jamais deixarão. Não por isso.

Agora, tenho leitores com quem provavelmente nunca me sentarei numa mesa de bar.

Mas que são uma das razões do meu trabalho.

*Publicado em Simbiose – Revista de Literatura – Edição de Wilson Guanais

Dica – Sexy Ugly, de Paulo Bono

Não costumo escrever sobre dois livros do mesmo autor em um curto espaço de tempo.

Há cerca de dois meses, escrevi sobre Espalitando, um livro de contos do baiano Paulo Bono.

Foi um dos melhores livros que li em 2023.

Pois bem, volto para falar de outro livro do Bono: Sexy Ugly, um dos melhores livros que li em 2024, e olha que ainda estamos em março.

O livro é classificado como uma “novela noir”.

Eu nunca saquei muito bem o que é uma novela literariamente falando.

Manjo de conto, romance, poesia… novela, para mim, é aquilo que a minha mãe via à noite na TV e que tinha o Tarcísio Meira.

Novela noir então, aí é que boiei mesmo.

Mas independentemente de como se chame ou o que seja, o livro de Paulo Bono (mais uma vez) nos pega e não nos larga, ou melhor, nós não conseguimos largá-lo.

Sexy Ugly conta a história de Deco Ramone, um redator publicitário contratado para fazer a campanha de um puteiro para aleijados.

É exatamente isso: um puteiro para aleijados, sem suavização.

Mas fiquem calmos, e antes que joguem pedras ou me cancelem (a mim e ao Bono), não há discriminação em Sexy Ugly, muito menos preconceito ou ofensa.

não há paranoia linguística, medo de escrever desse ou daquele jeito.

O próprio Deco Ramone não trata a si mesmo com muita piedade, ele que é um tipo sempre alvo de discriminação e deboche.

Aliás, a forma até impiedosa com que o narrador trata sua vida é um dos ganchos para cenas hilárias do livro, daquelas de você rir alto no meio do café, chamando a atenção dos outros fregueses.

Paulo Bono e seu Sexy Ugly, humor ácido em livro que a gente não larga

Mas não esperem esse humor forçado, banal e óbvio de stand up comedy

Deco Ramone faz piadas (ácidas) de si próprio, algo salutar para todo ser humano.

Se age assim consigo próprio, que dirá com os outros personagens.

Se você sabe o que é novela em literatura, leia Sexy Ugly.

Se como eu, nem desconfia do que seja, leia do mesmo jeito.

Só acho

Alesc

Acho que ter Caroline de Toni (PL-SC) na presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a CCJ, é a mesma coisa que ter à frente da comissão um homem branco, rico, heterossexual e todo o resto do estigma que ele carrega.

Só acho.

Só acho – A trilha sonora dos preconceitos

Com o perdão de quem gosta, eu acho que essa música sertaneja, que empobrece o Brasil há mais de trinta anos, na qual não existe harmonia, a melodia (horrorosa) é quase sempre a mesma, as vozes são de taquara rachada e as letras são imbecis e estúpidas é, também, a música tema do racismo, do trabalho escravo, do desmatamento, da poluição dos rios e córregos, do machismo, da violência contra a mulher, da homofobia e da discriminação contra nordestinos.

Só acho e, pensando melhor agora, que se foda quem gosta dessa merda.

Dica, Sete Dias em Setembro, de Victor Mascarenhas

Acho que é exagero dizer que há um boom de romances que mesclam a história do Brasil com ficção, mas me parece que há uma vertente trabalhando nesse gênero.

Depois de A Guerra Invisível , de Ana Maria Lopes, sobre a Guerra do Paraguai, e dois romances de Aguinaldo Tadeu – A Mulher que Proclamou a Republica e O Imperador da América – passados no Segundo Império, temos Sete Dias em Setembro , de Victor Mascarenhas, uma narrativa original e super divertida sobre o Grito do Ipiranga.

Nela, Victor repete com competência a fórmula, cria uma ficção com base em fatos reais e se desvencilha dos personagens centrais de um dos principais fatos da história do Brasil, quiçá o principal, para contar o que aconteceu na semana que antecedeu o “Independência ou Morte”.

Na história, os personagens são os mensageiros que levam a carta da Imperatriz Leopoldina e do ministro José Bonifácio a Dom Pedro I o exortando a proclamar a libertar o país do posto de colônia.

No livro, a viagem entre a corte e São Paulo, onde se encontrava o Imperador, é uma odisséia tão difícil quanto foi libertar o Brasil de Portugal.

Assim como os outras obras mencionadas, Sete Dias em Setembro usa a ficção para, quem sabe, despertar no brasileiro, principalmente os jovens, o interesse em apredender a história de nosso país, a forma mais eficaz de que os erros do passado não sejam repetidos no presente.

Resenha: Alexandre Marino sobre As Filhas Moravam com Ele

As Filhas Moravam com Ele”, mais recente livro de André Giusti, reúne 20 contos sob um título que pode enganar os desavisados. Não há neste volume (Ed.Caos&Letras, de Minas Gerais) historinhas familiares de final feliz, dentro dos limites de uma literatura bem comportada.

A leitura de seus textos deixa um amargor na boca, nos olhos e na consciência, porque ele revira as feridas e desmascara a podridão das relações humanas, a hipocrisia dos puros, o lado pecador dos falsos inocentes.

Às vezes sarcástico, às vezes irônico, sempre contundente, André Giusti cria histórias que abordam relacionamentos amorosos, familiares ou de amizade, sempre travados, pela incomunicação ou pela impossibilidade de interseção entre mundos que não se encaixam ou não se suportam.

Os contos de André levam o leitor por caminhos acidentados.

Uma história sobre a compra de uma garrafa de vinho numa adega de bairro ganha densidade inesperada.

O choque de classes entre um trabalhador rural e jovens de elite de Brasília revela que todo encontro é também um desencontro. Tragédias históricas, como a ditadura militar, deixam feridas jamais cicatrizadas.

E até a conquista de uma Copa do Mundo deixa de ser motivo de festa para se tornar angustiante descrição de um mundo feito de solidões.

Giusti, contista e poeta, é carioca e vive em Brasília desde o final dos anos 90. Jornalista, faz do meio profissional tema para histórias impiedosas, como a do antigo chefe que perde sua arrogância numa cama de hospital de subúrbio.

De lá também vem a soberba dos que se iludem com falsas glórias.

Há um lirismo rascante em alguns contos, em contraponto ao ambiente de violência, latente ou explícita, que envolve seus personagens.

A literatura de André é de um realismo impactante, e se em seus contos ele abre espaço para o sonho, também não permite esquecer que a realidade pode ser pior que o imaginável.

Mas, em gesto de benevolência, André Giusti fecha o livro com o conto título, que, depois desse passeio por algumas repartições do inferno, oferece um alívio ao leitor com uma narrativa terna e doce.

“As filhas moravam com ele” é um belíssimo livro, instigante e necessário.

A gente de uma cidade (Poema para o 1º de março)

A gente de uma cidade

O S escorrendo como X
Na esquina no biscoito
Feito espuma de chope
Descendo a tulipa.
Esse deboche
Fantasiado de simpatia
Esse descompromisso
Disfarçado de gentileza:
Vá lá em casa
Depois te passo o endereço.
Possui a teimosia
de resistir e viver
E sorrir e ser alegre
Mesmo quando a própria cidade
Recomenda o exílio e a fuga
E aconselha o sumiço.
Só que além de tudo
Acima de tudo
É um me sentir comigo
Como quem tira apenas os sapatos
E se deita na cama dos pais.

André Giusti

Assista aqui ao vídeo

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