Leio tardiamente o grande sucesso de Bret Easton Ellis, livro que à época chegou a ser considerado O Apanhador no Campo de Centeio da minha geração.
Fiquei particularmente impressionado com a capacidade do autor de dizer sem falar, de deixar claro uma situação e um sentimento comum entre os personagens sem se referir objetivamente àquela ou a este.
Descrevendo uma sucessão de cenas e acontecimentos fúteis, mundanos, banais, Bret desnuda o vazio de viver de seus personagens, jovens bem nascidos no grand mond do cinema americano, mas o faz sem juízo de valor, sem dizer categoricamente “Que bosta de vida que essa gente leva”.
Isso é feito – e aí mora o grande barato do livro, diria até um pingo de genialidade literária – induzindo o leitor a ter uma quase certeza de que cada um dos personagens pensa – sem dizerem nem para si mesmos – que a vida deles realmente não possui sentido algum.
Além da futilidade e do vazio existencial, outro traço une todos que aparecem na história: a total ausência dos pais desses jovens.
Abaixo de Zero não tem o objetivo de entreter (embora seja livro difícil de largar) nem encantar pelo estilo literário (simples, sem elegância até).
Me parece ter um objetivo bem mais importante do que todos estes: nos manter permanentemente atentos com a utilidade que estamos dando às nossas vidas.
Recomendo.