Encontros com 40 grandes autores

Por Alexandre Pilati*.

 

A editora LEYA lançou no Brasil um livro que teve grande repercussão internacional. Trata-se de ENCONTROS COM 40 GRANDES AUTORES, uma obra que reúne perfis e entrevistas de 40 autores de renome de diversas nacionalidades, tanto de ficção como de não ficção.

O autor das entrevistas é o jovem jornalista australiano Ben Naparsteck, de apenas 26 anos. Apesar da pouca idade, Naparsteck é reconhecido como um dos mais destacados jornalistas culturais da Austrália, sendo hoje editor da revista The Monthly, de Melbourne. Entre os anos de 2001 e 2008, Ben Naparsteck entrevistou mais de cem personalidades do mundo dos livros e da cultura. Dessas cem entrevistas que foram feitas presencialmente, ou por telefone ou por e-mail, a editora Leya selecionou 40 significativos exemplares.

Esse é o tipo de livro que pode agradar àqueles que gostam de conhecer o que os autores pensam sobre o mundo contemporâneo e de que modo eles refletem sobre a sua própria obra. Em ENCONTROS COM 40 GRANDES AUTORES é possível encontrar depoimentos reveladores sobre detalhes dos processos criativos de escritores como Carlos Fuentes e José Saramago e também interessantes passagens da vida de cada um deles.

Alguns destaques entre os 40 autores

Um dos grandes destaques entre os 40 escritores entrevistados é o do português José Saramago. Ele fala a Naparsteck, numa das suas últimas entrevistas, sobre a forma como seu estilo especial de escrever começou. Segundo o recém falecido ganhador do premio Nobel, esse estilo que o consagrou começou durante a redação do romance Levantado do chão, em 1979, e teria sido influenciado pelo tema do livro, que remetia ao Portugal arcaico do início do século XIX, um ambiente no qual predominava a cultura de contar histórias oralmente predominava.

Outro grande momento do livro é o depoimento do crítico de arte e escritor italiano Umberto Eco, autor de O nome da rosa. Em tom de brincadeira e provocação, Umberto Eco diz que ele inventou Dan Brown, o autor do famoso Código Da Vinci, uma verdadeira galinha dos ovos de outro da indústria do entretenimento. Segundo Eco, Dan Brown seria como um dos personagens grotescos de seu romance O pêndulo de Foucault, que levam a sério a fartura de material estúpido sobre ocultismo e elaboram intrincadas teorias conspiratórias.

O autor norte-americano Paul Auster também ganha destaque entre os entrevistados do livro. Ele dá a Bem Naparsteck um belo depoimento sobre o porquê de escrver literatura. Segundo ele, são o imprevisto, a sorte inesperada, o desconhecido que fazem surgir as histórias de ficção e seria exatamente nisso que residiria a semelhança da arte com a vida e a razão da identificação de tanta gente com as “mentiras verdadeiras” da literatura.

Uma celebração da arte de entrevistar

No fim das contas, Bem Naparsteck nos apresenta com grande competência a sua capacidade para deixar a vontade e ouvir grandes celebridades do mundo das letras. Não é fácil estar diante de autores renomados como o romancista Carlos Fuentes, o lingüista e ativista político Noam Chomsky, o escritor Ismail Kadaré, o filósofo Bernard-Henri Levy ou o psicanalista Adam Philips. A estratégia de Naparsteck, segundo ele próprio, foi se comportar ceticamente com relação às afirmações dos entrevistados, exatamente para não ser seduzido pelo brilho do seu pensamento.

É bom lembrar que há um livro muito semelhante publicado aqui no Brasil pela editora Record, que reúne perfis de grandes escritores elaborados a partir de entrevistas, de autoria de José Castello. O livro se chama Inventário das sombras e, publicado em 1999, já se encontra na 3ª edição, também disponível nas livrarias. Nele, José Castelo apresenta perfis de autores como Manoel de Barros, Hilda Hilst, Ana Cristina César, Nelson Rodrigues e Adolfo Bioy-Casares. 

*Eu e Alexandre Pilati conversamos sobre literatura na BandNews FM todas as 2ªs e 3ªs na BandNews FM Brasília, 90,5, às 16h51 e 11h31, respectivamente.  

1 comentário em “Encontros com 40 grandes autores”

  1. Desde pequeno gosto de ler perfis de escritores, cientistas, intelectuais, enfim essa gente que paira sobre nossas cabeças. No livro que o Pilati comenta chama atenção é o comportamento cético diante dos deuses. Sei não.

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