Estrela da hora do rush

Os sinais de trânsito mudavam de quando em quando, iguais às suas certezas, que ao longo do dia faziam e se desfaziam em dúvidas, e voltavam tantas outras vezes a serem certezas. Lembravam roupas de boneca, que além do lado certo, também podem ser vestidas pelo avesso para incrementar a brincadeira.

Pela manhã, era convicto de tudo, seguramente certo do que faria. Na hora do almoço já admitia outras possibilidades, e quando a noite chegava para dar seu expediente de medos e mistérios, ele não garantia nada que houvesse resolvido quando saíra de casa pleno de esperança em soluções e jeitos arranjados.  

(Havia sido tão mais cômodo nas outras vezes em que a vida se antecipou a ele e mudou os móveis de lugar, ou mesmo trocou a mobília inteira ou parte dela).

Anos luz acima dos nervos inflamados da estação rodoviária, vênus brilhava complacente com os homens apressados que nela jamais reparavam. E enquanto aguardava que abrisse o sinal da ocasião, olhava a estrela pedindo que alguém, ou até mesmo ela, decidisse por ele o que dele escapava da coragem.

2 comentários em “Estrela da hora do rush”

  1. Raquel Madeira

    Lindo! Nada como a mão de um poeta para retratar também a angústia e o medo da mudança.

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