Os sinais de trânsito mudavam de quando em quando, iguais às suas certezas, que ao longo do dia faziam e se desfaziam em dúvidas, e voltavam tantas outras vezes a serem certezas. Lembravam roupas de boneca, que além do lado certo, também podem ser vestidas pelo avesso para incrementar a brincadeira.
Pela manhã, era convicto de tudo, seguramente certo do que faria. Na hora do almoço já admitia outras possibilidades, e quando a noite chegava para dar seu expediente de medos e mistérios, ele não garantia nada que houvesse resolvido quando saíra de casa pleno de esperança em soluções e jeitos arranjados.
(Havia sido tão mais cômodo nas outras vezes em que a vida se antecipou a ele e mudou os móveis de lugar, ou mesmo trocou a mobília inteira ou parte dela).
Anos luz acima dos nervos inflamados da estação rodoviária, vênus brilhava complacente com os homens apressados que nela jamais reparavam. E enquanto aguardava que abrisse o sinal da ocasião, olhava a estrela pedindo que alguém, ou até mesmo ela, decidisse por ele o que dele escapava da coragem.
Lindo! Nada como a mão de um poeta para retratar também a angústia e o medo da mudança.
Belo texto, André, parabéns! Lindo mesmo!