Dona vizinha me para e conta
De quando chegou aqui em 1980,
Dos filhos formados, que cresceram
Brincando na portaria.
As sombras verticais da tarde
Também seguirão minhas filhas até o infinito, eu comento,
E dona vizinha ainda me conta que os dela
Nunca deixaram de correr na portaria da memória,
Que até hoje brincam na portaria da lembrança.
(Dona vizinha tem nos olhos uma saudade
Que vai do primeiro ao último dos pilotis do bloco.)
Eu gosto da dona-de-casa
Que passa com hora marcada
Para fazer a unha,
Da estudante que some no arvoredo
A caminho da universidade,
De quem veio do Maranhão
Do Piauí
E nunca mais voltou.
Há sempre lua alta que a madrugada derrama
Nos azulejos da cozinha
Quando bebo água no meio da noite.
Há sempre uns pingos da última chuva
pesando nas folhas,
virando breves cristais de sol
nas manhãs afobadas da minha pressa.
Há sempre o vento dando no alto das árvores
E o barulho das árvores conta de um tempo que não volta
Mas que também não vai embora.
(Por falar em tempo, dona vizinha,
Vamos conversando no caminho
Senão perderemos
o baile de inauguração da cidade)
Querido amigo André, a nossa Brasília, a Brasília das pessoas trabalhadeiras e honestas, merece
esse belo poema! Me encantou. Um abraço, Stella Maris
lindo, lindo, lindo, lindo.
Legal, André. Meu único irmão mora aí há décadas e gosta muito de Brasília, não quer mais voltar para o Rio, mesmo aposentado e com toda a família aqui.
Abraços
PS Apareça no meu eclético blog: O Gozo da Letra.
Que bela homenagem!
Carioca sempre, nunca deixarei de ser. Brasiliense também porque aprendi a ter amor por essa cidade.
Lindo, André. Parabéns para Brasília, que ao vê-la estampada nos jornais ontem, não pela corrupção, mas pela sua beleza e também de seu povo, cada um dando seu depoimento. Senti saudades daí, o coração bateu forte, vontade doida de fazer parte das comemorações, cidade que aprendi a amar, pois afinal moram meus 5 amores!!!
Parabéns Brasília, que está sempre aberta para a chegada de novos vizinhos, que tenham os olhos também voltados para o azul de seu céu!
É desta saudade ausência-presença que me alimento de muitos amores… e destas histórias viventes que mando afeto puro, para todos os lados!
Sei que você me entende, caro poeta-escritor-André-gente- que sente…. Bjs, cunhado querido!
GOSTEI DO POEMA, PARECE PROSA, PARECE UNS CONTOS EM PROSA QUE O DALTON TREVISAN ESCREVEU; SÓ QUE O SEU TEM MAIS POESIA..
O DALTON É MUNITO SECO, NÉ? ABRAÇO.
Lindo, André. Salve Brasília, apesar da corrupção e dos políticos. O Planalto Central tem gente muito boa, trabalhadora e que dignifica essa terra. Pessoas como você! Parabéns pra você também candango, por opção ou de coração? Abração, amigo!