Lampião

Existe em mim
Um antigo
Lampião de rua,
Daqueles do Rio
Capital do Império.

Nele,
Me escoro na madrugada
Durante uma bebedeira
De juventude.

Sob sua luz
Que amarela
Um pequeno recorte da noite,
O poeta tísico
Murmura versos
Do ultrarromantismo
E com eles tenta
Comover a morte.

Um bêbado estilhaça
Todas
As garrafas que esvazia
Amaldiçoa a sorte
O destino as mulheres e a vida.

Embaixo de meu lampião
E ao som de bolero
Um casal se encontra
À traição
E troca beijos
em uma cena
De filme noir.

Mas nada faz
Mais sentido
Ao meu lampião
Do que a imagem
De teu rosto,
Cada vez mais
Longínqua no tempo
Sempre inaugurando
meus dias,
que amanhecem
Cansados e vazios.

André Giusti, 1989

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