Ora, de quem é a tarefa?

Foto: Globo/Estevam Avellar
Foto: Globo/Estevam Avellar

A cunhada do primo de um conhecido do vizinho de um ex-colega de trabalho ainda está horrorizada com a cena das duas atrizes famosas se beijando na novela da noite. Ela diz que não sabe aonde esse mundo vai chegar e que a pureza das nossas crianças está sendo contaminada por todo esse lixo que a televisão coloca todos os dias na casa da gente.

Embora a mídia seja responsável socialmente por aquilo que veicula, acho que é o caso de lembrar a esta senhora, e a tantas outras mamães e papais escandalizados com o beijo gay, que a TV foi inventada para exibir programas.

Escolher o que as crianças devem ou não assistir é tarefa deles, mães e pais, que puseram filhos no mundo. Televisão não tem filho pra educar, embora tenha esse dever perante a sociedade.

Que tal desligar a televisão e navegar junto com a criança pelo delicioso mar da leitura?

Ou então simplesmente pôr para dormir que amanhã tem que acordar cedo pra escola e isso não são horas de criança estar acordada.

Ah, é porque dá mais trabalho do que deixar vendo TV, né?

Pois é…

Poesia na calçada (1a. edição)

A poesia contra ataca outra vez a caretice que assola Brasília e o Brasil. Foi ótima a primeira edição do Calçada da Poesia. Bradamos nossos poemas a quem passava pela calçada do Conjunto Nacional na tarde do último sábado, dia 28 de março. Acho que libertamos algumas consciências. Estive na ótima companhia de Adeilton Lima, Conceição Ceiça Targino, Jorge Amancio, Seira Beira, João Victor Pacifico, Rêgo Júnior, Noélia Ribeiro, Claudia Rocha Guarani Kaiowá, Cumpadi Ancelmo Borges de Moura e Joãozinho da Vila Planalto. Dia 25 de abril tem mais. Até lá!

Fotos de João Victor Pacífico
Fotos de João Victor Pacífico

Poesia na calçada 2

Faxina

Eu mesmo fiz a faxina.
Não espere encontrar espetáculo, mas sim boa vontade.

Fonte: http://www.cec.com.br
Fonte: http://www.cec.com.br

A difícil tarefa masculina de fazer xixi em shopping

Penso que alguns shoppings precisam repensar a relação que possuem com os homens. Sim, gente do sexo masculino, que usa calça comprida, bermuda e short. Que faz xixi em pé.

Muitos deles (o Liberty Mall, em Brasília, é um exemplo) simplesmente não têm prateleiras junto aos mictórios – isso! Aqueles vasos brancos presos na parede, um dos ícones do universo masculino.

Talvez pensem que homens não fazem compras, que não carregam embrulhos, pacotes, bolsas. Talvez ainda pensem que apenas acompanhemos, mal humorados, nossas esposas, namoradas, filhas. Quem sabe achem que só entramos num shopping para tomar um espresso enquanto a primeira dama roda pelas lojas.

Fonte: thaisfrota.wordpress.com
Fonte: thaisfrota.wordpress.com

Mesmo que não tenhamos ido às compras (mulheres, emprestem-me a expressão, por favor), hoje em dia sempre levamos nas mãos a carteira, o Ipod, o smartphone e, no meu caso, que já fiz a revisão dos 40 mil, a caixa com os óculos pra perto.

E onde se põe toda essa tralha na hora de fazer xixi?

Imagine como é segurar embrulho, sacola, óculos com uma das mãos e com a outra abrir a braguilha e capturar, lá dentro, o instrumento.

Ainda mais quando se trata do brasileiro normal, mediano, padrão, cujo volume – não falo de eficiência – equivale apenas à compra de uma ida ocasional ao shopping, e não à lista com os presentes de natal.

Sobre inutilidades guardadas (inclusive livros)

Recentemente me mudei para um canto que mede menos da metade daquele em que eu morava, uma verdadeira cirurgia bariátrico-habitacional.

E confirmei o que eu já tinha quase certeza: havia coisas demais lá em casa, guardei coisas demais ao longo dos anos. Será que posso falar em nome de todos nós? Temo que sim.

Em golpes curtos, sem qualquer piedade, lá se foram lembrancinhas repetidas que minhas filhas ganharam em festas de aniversário quando eram bebês; bandejas de café da manhã na cama, que nunca usei porque gosto de tomar café na mesa; um pinguim de geladeira que, sinceramente, nunca reparei que ficava em cima da geladeira e as contas de telefone de…2001, porque a classe média é assombrada pela perspectiva de que a Vivo ou a Claro vão bater na porta cobrando uma dívida impagável de 15 anos atrás sem que você não tenha como provar que já pagou.

Me desfazer dessas coisas (um desencaroçador de azeitonas também foi junto) me trouxe uma sensação de que me despi de inutilidades, e com isso me auto incentivo a fazer o mesmo com as inutilidades interiores, para caminhar mais leve daqui pra frente.

Preservei meus CD’s, mas o desapego recaiu sem dó sobre os livros. CD a gente escuta de tempos em tempos, mesmo que seja espaçado pelos anos, mas livros, com algumas exceções, depois de lidos, das estantes geralmente só saem mesmo em caso de mudança, ou quando são emprestados e, quase sempre, não voltam.

Fonte: cataventodeideias.com
Fonte: cataventodeideias.com

Me desfiz de 80% deles, só fiquei com alguns que ainda não li e que imagino valerem a pena ler, e ainda com aqueles que me marcaram profundamente a vida de leitor e minha formação como autor. E sem nenhum pesar, digo que boa parte deles não me marcou em nada, inclusive os de autores consagrados, nacionais e estrangeiros, os quais só não cito nomes por preguiça de polêmica.

E então, olhando a estante que agora comporta minha esbelta biblioteca, chego a uma certa conclusão de que nossa relação com os livros ao longo do tempo pode ser comparada a nossa relação com as próprias pessoas. Algumas são para sempre, outras marcaram época, mas hoje não têm qualquer importância. E há, claro, aquelas sobre quem nossa lembrança é quase nenhuma, feito um livro que a gente não tem a mínima ideia se já leu algum dia.

O Vinil Eterno

Não tenho lá esses apegos aos meu velhos discos de vinil. Vou me desfazer dos antigos bolachões sem muita dor no coração. Vinil pode ser até legal, mas se realmente for, para mim é que nem fusca: bacana de ver, admirar, mas dirigir mesmo, só fim de semana, uma horinha ou duas e vá lá.

Passei a adolescência inteira e parte da juventude tendo que levantar, no melhor do embalo do que estava fazendo, para virar o lado do disco. Confesso enorme preguiça disso hoje em dia.

Mas na hora de encaixotar os épicos long plays (deixe a boca mole para falar, beibi: long play.), deparei com um que guarda algumas de minhas melhores memórias musicais. Melhores e mais antigas. O disco de estreia de Joan Jett em sua nova banda, logo após ter deixado as Runways, foi o primeiro que comprei em minha vida de consumidor voraz de vinis, posteriormente CDs e em seguida links e MP3. Eu tinha 13 anos e a primeira vez que ouvi I Love Rock’n Roll no rádio, enlouqueci. Felizmente, nunca mais me curei.

Para consegui-lo, fui e voltei a pé da escola durante duas ou três semanas, economizando o dinheiro da passagem. O lanche na escola também dançou. Jejum em nome do Rock ‘n Roll. Quando os trocados já eram suficientes, fui, mais magro de tanto andar e com menos uma refeição ao dia, comprar o bolachão que, agora, mudando de casa e animado para decorar o novo ambiente, pus na moldura para eternizá-lo.

Está lá, em uma das paredes, com as marcas do tempo, do uso, das tantas festas para as quais eu o carreguei na adolescência.

Mais do que o som de uma das minhas guitarristas e vocalistas preferidas, estão naquela moldura doces lembranças de alguns dos melhores anos da vida de um cara que ama os Beatles e os Rolling Stones.
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Dica

Um detetive particular que sofre de amnésia e vai atrás de pistas que revelem seu passado. Ele não sabe nem de fato quem é. Aliás, tornou-se detetive justamente para isso: descobrir tudo o que aconteceu em sua vida antes dos últimos dez anos. Com esses elementos, este clássico de Patryck Modiano – Uma Rua de Roma – tem tudo para ser um livro delicioso. É é.

Fonte: www.rocco.com.br
Fonte: www.rocco.com.br

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