Ainda sobre faróis ao dia

Nos tantos anos em que atuei como repórter no jornalismo, fiz a cobertura de vários acidentes automobilísticos, muitos nas estradas, e foram incontáveis aqueles com mortos ou pessoas que ficaram para sempre sequeladas.

Nunca, mas nunca mesmo, ouvi de algum motorista envolvido nesses acidentes, e mesmo de qualquer policial responsável por registrar a ocorrência, que a tragédia aconteceu porque um dos carros trafegava, em plena luz do dia, de faróis apagados e não pode ser visto pelo outro, ou outros motoristas, envolvido na colisão.

Sem tanta vontade de escrever sobre o assunto, há dias remoo essa desculpa esfarrapada, debochada de um estado insaciavelmente arrecadador, que quanto mais leva de nós em imposto ou multa, menos nos entrega em serviços básicos e direitos.

Mas aí li nessa reportagem do Congresso em Foco (link no final) sobre as pontes na BR-080 – rodovia aberta na ditadura militar para ligar o Distrito Federal ao Amazonas – e resolvi escrever, já nem tanto sobre a obrigação dos faróis à luz do dia, mas sobre o fato de que neste país o estado mergulhou num mar tão fantástico de cinismo e hipocrisia, assemelhando-se àquele doente mental que, a cada dia mais débil, fica totalmente isolado em sua própria realidade doentia e desconectada.

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/pontes-de-toras-de-arvore-na-floresta-amazonica/

Éramos tão jovens

produto.mercadolivre.com.br
produto.mercadolivre.com.br

Hoje pela manhã alguém postou na rede social a capa do segundo disco da Legião Urbana, lembrando que exatamente trinta anos atrás, num dia 20 de julho (ontem, portanto), ele estava sendo lançado.

A pessoa que postou lembra o abalo que esse disco provocou e do que ele representou para toda uma geração de jovens.

Eu, que o levei pra casa na semana do lançamento, lembro bem que o LP (era assim que se chamava o vinil) mostrava que a Legião, ao contrário do R.P.M e do Ultraje a Rigor, não seria uma banda de um disco só.

O disco foi marcante não apenas pela sua qualidade, mas também por ter saído no contexto de um país que se redescobria livre para dizer o que pensava, de uma geração que, massacrada na infância pelas aulas de Moral e Cívica, de uma hora pra outra ficou sabendo que podia ir pras ruas gritar palavras de ordem.

Tudo isso estava sendo vivido intensamente naquele tempo, ao som do Dois, da Legião. E tudo aquilo que vivíamos ficaria marcado para sempre, embora não nos déssemos conta disso.

É que certamente estávamos muito ocupados tentando decorar a letra de Eduardo e Mônica.

Antes o anacrônico que o moderno

http://www.imagenstop.blog.br/
http://www.imagenstop.blog.br/

Aceitaram de bom grado o convite para se apresentarem na feijoada bolchevique.

Leriam dois ou três poemas antes da roda de samba. O cachê era o sorriso iluminado e grato da organizadora, velha amiga de um deles, e um belo e suculento prato de feijoada.

Festa grande, coisa de 200 pessoas. Quem fosse, estaria contribuindo para pagar a passagem de uma caravana que ano que vem vai à Rússia, comemorar os 100 anos da revolução bolchevique. Daí foi batizada assim a comilança.

– Revolução bolchevique…que coisa mais anacrônica… – um deles balançou a cabeça, rosto torcido em tom de desprezo.

O outro concordou

Mas, logo em seguida, parecendo refletir melhor, o que dera o muxoxo tratou de emendar.

– Bem, em todo caso é muito melhor do que Escola sem Partido.

E o outro concordou de novo. E mais ainda.

Educar com amor, até por interesse próprio

dialmformovies.wordpress.com
dialmformovies.wordpress.com

Outro dia escrevi na rede social que gosto muito quando vejo uma moça nova cuidando bem da mãe. Ou um rapaz fazendo o mesmo com o pai. Ou vice-versa.

É que vi, na praça de alimentação do shopping, uma moça típica dos dias de hoje: tatuagem, piercing, corpo malhado e beleza viril. Que se desmanchava em zelo com a mãe, uns trinta anos mais velha.

Com amor em forma de cuidado e atenção, leu o cardápio do restaurante para a senhora. Depois acomodou-a numa das mesas da praça da alimentação. Minutos depois, foi apressada pegar a comida quando a campainha chamou a senha.

Só esqueci de dizer que provavelmente aquela senhora estava colhendo os frutos de uma educação que entregou à filha amor, zelo, cuidado e atenção.

E agora estava recebendo de volta.

Educar os filhos com amor não é pensar apenas neles.

É pensar também em nós.

Rolar para cima