Mudar o alvo da estupidez

 Luiza Garonce/G1
Luiza Garonce/G1

Não sou a favor de pichação e depredação a monumentos e prédios públicos, embora não entenda muito o escândalo que se faz quando isso acontece.

Hipócrita, a sociedade não lembra que pouco ou quase nada se importou em ensinar aos jovens a importância de se preservar o que é público, de dizer que o público é de todos. Até porque, em tantos casos, ela própria acha que o público é particular, e no privado faz uso ilícito e imoral dele.

Fora isso, quando o público é uma praça, um parquinho infantil ou uma quadra de esportes abandonados e destruídos na periferia, não há clamor, muito menos indignação de contribuinte e cidadão.

Em todo o caso, se a tática é mesmo partir pra ignorância, que tal, por exemplo, se deixar de lado museus, ministérios e monumentos, e picharmos os muros, estilhaçarmos as vidraças da casa do deputado que desviou dinheiro da merenda?

Que tal virar de cabeça pra baixo o carro do senador que afanou o dinheiro do remédio de alto custo? O carro particular, e não o oficial, pago do nosso bolso. Que fique claro.

Que tal incendiarmos o jipão importado do executivo do banco que determina a cobrança extorsiva de juros e nos rouba cada vez mais com  taxas escorchantes criadas sempre a cada mês?

Por que não afundamos a lancha ou o iate – sob uma linda fogueira de óleo diesel – do diretor da companhia telefônica que manda a moça do telemarketing estar vendendo para nós 10 mega de internet, mas não nos entrega nem três?

Se a estratégia é mesmo a estupidez, acho que estamos atacando os alvos errados.

 

Chapecoense

http://extra.globo.com/
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A morte repentina é um recado dado às pressas, que a gente não consegue entender.

Até que a aposentadoria nos faça feliz

Blog Televendas & Cobrança
Blog Televendas & Cobrança

Na última terça-feira, com pouco mais de um minuto de abertura do sistema para adesão ao plano de demissão voluntária e aposentadoria do Banco do Brasil, já havia quase 700 funcionários inscritos.

Segundo quem presenciou esses primeiros instantes, ao clicarem no ícone que confirmava a adesão, as pessoas gritavam de alegria. Como se grita quando o filho nasce, quando o time é campeão.

Quem está de fora, acaba enxergando nessa explosão de felicidade um momento breve que parece resumir o sentimento de toda uma vida, de 20, 30 anos dentro de uma empresa.

“Eu optei por isso para ter estabilidade, não ser mandado embora, ter um bom salário em dia, para pagar com folga minhas contas todos os meses”, muitos dizem. “Agora, me aposentando, vou ser feliz”, outros complementam.

Ao longo de décadas de trabalho, formulando estratégias para a conquista de espaço no sanguinário mercado financeiro ou finalizando relatórios com encaminhamentos inexequíveis para questões insolúveis, estariam quantos bons médicos, dentistas, arquitetos, bailarinos, músicos, atores, advogados, assistentes sociais?

Quanto poderia ter sido, e não foi. Por opção. Por escolha. E há de se pensar, numa análise de quem está de fora, por medo.

E no rastro disso, não é exagero conjecturar: quantas sessões de terapia, quantos filhos postos de lado, quantos episódios de alcoolismo, quantos casamentos desfeitos e quantos outros que se desfizeram sem acabar.

Muitos de nós, a maioria, talvez, somos prisioneiros de uma cultura patriarcal/matriarcal que vira escravidão ao longo da vida: é preciso ter, pagar, amealhar e garantir para deixar de herança aos escravinhos que poremos no mundo, que a exemplo de nós devem viver abrindo mão dessa coisa que gasta energia, toma tempo, que é tentar ser feliz.

Pelo menos até a aposentadoria.

 

Vida de escritor 1 e 2

Rodrigo Gurgel
Rodrigo Gurgel

1 – Depois que você desliga o computador e entra no banho, vem à cabeça aquele parágrafo inteiro que você tentou durante uma hora e não conseguiu escrever.

2 – Quando sua namorada perguntar se você vai escrever, nunca diga que vai. Diga que vai tentar, porque escrever é um negócio tão imprevisível, que na verdade a gente nunca sabe se vai conseguir.

A angústia das listas dos mais mais mais

Disco-de-vinil-2

Vi em algum lugar que já saiu uma lista com os 75 melhores discos de 2016.

É mais uma dessas listas feitas a partir sabe-se lá de que critérios, adotados por quem não temos a menor ideia de quem seja e com finalidades e objetivos ainda mais desconhecidos.

Mas o grande problema dessas listas nem é ignorarmos suas origens e reais intenções.

O que mais me angustia em todas elas são dois pontos.

O primeiro é que pelo menos eu desconheço no mínimo a metade dos selecionados, o que me faz me sentir um ignorante estúpido desconectado na era da informação.

E o segundo, até mais justificável, é que com a vida que se leva, se fôssemos realmente, de verdade, tentarmos escutar os melhores discos de todos os anos, ainda estaríamos na lista de 1982.

O que é só emprestado

Repdrodução

Não entendam como reflexão espiritualista o que vou dizer. Muito menos religiosa.

Mas vendo a foto de Sérgio Cabral de frente, corpo inteiro e perfil para identificação no presídio – como qualquer outro preso – me ocorre que certos poderes, como o próprio poder, não nos são concedidos para proveito próprio.

Riqueza, inteligência, liderança, cultura são instrumentos postos em nossas mãos para que contribuamos com o todo, nunca para o benefício individual.

A fatura disso tudo, me parece, é fomentar a melhoria do coletivo.

Caso contrário, isso que é dado a alguns e os destaca na multidão de seus iguais será tomado em algum momento, de alguma forma, com um duro aviso de que não era nosso, era só emprestado com finalidade e para uso nobres.

Dúvidas?

Vejam a foto do Cabral.

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