Duas historinhas de redação

 Joanne Weston
Joanne Weston

Dizem que o jornalismo quando não mata, aleija (e é verdade mesmo), mas é uma profissão de ótimas histórias.

A repórter iniciante, promessa de grande profissional, procura alguém que tenha tido chikungunya.

Liga para dezenas de pessoas, mas ninguém teve a doença.

Quando finalmente do outro lado da linha ouve a pessoa dizer “sim, eu tive”, ela não se contém e fala alto, toda a redação escuta.

– Ai, que bom que você teve!!!!

Me lembrou outro caso.

A produtora da TV está atrás de uma matéria sobre incêndios florestais, mas a chefe quer que ela descubra alguém que tenha tido o sítio, a chácara ou a fazenda queimado por esses incêndios.

Fica sabendo que a vizinha do advogado do pai da madrasta da colega de escola “parece que tem sim um sitiozinho que pegou fogo no ano passado”.

Consegue depois de uma hora o telefone da pessoa.

A mulher atende e ela pergunta se o tal do sítio realmente pegou fogo. E quando a mulher responde “não, minha filha, não teve nada disso”, a coitada da produtora não esconde a decepção.

– Ah, que pena! Ôpa, não! Quero dizer…

Ela tenta corrigir, mas já é meio tarde.

Sobre lançar e vender livros para amigos e leitores

Acervo particular
Acervo particular

Após vinte anos publicando livros, aprendi algumas pequenas coisas.

Duas delas reparto aqui, porque talvez sejam úteis para uma meia dúzia de três ou quatro que começam a se arriscar no mesmo caminho.

A primeira é sobre a noite autógrafos.

Aprenda que aquela pessoa que não foi ao lançamento dificilmente comprará seu livro depois.

Não nutra esperanças no caso da velha promessa: “ah, eu não vou poder ir, mas quero comprar depois, e autografado”.

Esse tipo de pessoa até existe, mas não lota um fiat mille. E se o livro for de poesia, elas cabem numa moto.

A outra coisa é pensar em ter leitores, e não compradores de livros.

Portanto, dispense do desembolso aquele seu grande parceiro, que te adora, que você adora, mas que o último livro que ele leu foi no segundo ano da faculdade. E mesmo assim no resumo.

É sério, não queira vender livros por amizade, isso não terá o efeito que você esperava quando abdicou parte de sua vida para ficar na frente de um computador. O único efeito será o numérico.

Tenho grandes amigos, e mesmo parentes que considero, que jamais leram uma única linha que escrevi nesses mais de trinta anos de ofício.

Não deixaram de ser meus amigos, e jamais deixarão. Não por isso.

Agora, tenho leitores com quem provavelmente nunca me sentarei numa mesa de bar.

Mas que são uma das razões do meu trabalho.

A grande responsabilidade

ASMEGO
ASMEGO

Esta é só a opinião de um modesto e pacato cidadão.

Mas acho que a tarefa de maior responsabilidade da pátria neste momento, e nestas circunstâncias, está no colo da ministra Carmem Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal.

Não entendo do regimento do STF, mas pelo que li ela pode distribuir o processo da lava-jato entre os outros ministros.

A alternativa a isso, pelo o que também li, é o Presidente da República indicar alguém para ser o relator, em substituição ao ministro que morreu.

Então, a minha esperança de modesto e pacato cidadão, é de que a ministra Carmem Lúcia também ache complicado alguém que é citado 43 vezes nas delações do processo indicar alguém que pode justamente anular essas delações.

É só a opinião de um modesto e pacato cidadão, assalariado, que tá se virando como pode pra pagar o aumento da mensalidade da escola das filhas, o material escolar e o uniforme delas.

Nota

emails

Tendo que fustigar velhos emails, descobri que até 2013 – apenas quatro anos atrás – ainda se mandava emails para os amigos dizendo que estávamos com saudades e que deveríamos nos ver.

O passado fica antigo cada vez mais rápido.

Lições do tênis

MDig
MDig

Fico sabendo, por intermédio de Maria Balé, que no tênis não se comemora o erro do adversário.

É algo para se levar pra vida pessoal e aplicar todos os dias.

Tanto por quem joga, quanto por quem não joga.

Das coisas do fundo do tempo

resposta

Escrevi esse poema quando tinha 19 anos.

Logo depois, Mauro Cesar o musicou em alguma daquelas tardes/noites intermináveis de Rio das Ostras dos anos 80.
Agora em dezembro ele me disse que a nossa música, feita na época do vinil e da fita K7, vai ser gravada e posta no spotify.

Três décadas depois.

Cantou pra mim baixinho, à capela mesmo, no bar ainda vazio, enquanto esperávamos que chegassem parte dos amigos daquela época.
Quando ele terminou, parecia que eu tinha acabado de escrever, e ele de fazer a música.

Era tanto frescor, que nem parecia que aquilo nascera num tempo que fica cada vez mais distante no calendário (e mais perto na saudade).

Perdão aos mais exigentes se esse poema não é literatura, mas apenas a emoção sincera e pura de um garoto de 19 anos apaixonado pela vida.

Três filmes

E como tomei um chá de cinema neste fim de semana, fiquei pensando nos filmes a que já assisti na vida e fiz uma rápida seleção dos melhores, na minha opinião. Espremi muito, e com muito esforço cheguei à conclusão de que esse três foram os que mais me emocionaram.

Forrest

cinema paradiso

O Filho da Noiva

Um livro

Paper boy capa

Um livro que você compra por R$ 10 naquela bienal de literatura, em que a literatura mesmo passou longe. Parecia feira de papelaria, de concurso público ou de livro religioso.

Um livro que você não sabia que era best seller, segundo o New York Times.

Que você não imaginava que houvesse virado filme com alguns atores que você gosta.

Muito menos que houvesse sido indicado à Palma de Ouro, em Cannes.

Um livro sem invencionices literárias, sem experimentos pretensamente geniais, sem personagens pretensamente densos, complexos e fascinantes, daqueles que te fazem se sentir imbecil, porque você acabou dormindo ao tentar entendê-los.

Um livro que não é de nenhum autor que está em alguma lista dos dez autores contemporâneos mais imprescindíveis do momento, daqueles que quando você lê, não entende porque o sujeito está na lista.

Um livro que você não entende como pode ser o único do autor traduzido para o português.

Um livro que você só larga porque precisa dirigir, ir trabalhar e tocar a vida.

Um livro que te faz querer que o dia acabe logo, pra você voltar pra casa e ler.

 

Rolar para cima