Reaprender

O Sérgio Augusto Novaes Cabral postou o link da gravação ao vivo dessa música aí debaixo.

O meu link é a versão de estúdio.

Certamente é o maior hit do Foreigner, uma banda meio farofa meio sessão da tarde (é só reparar no vídeo, que está a uma passo da cafonice).

E eu não tô nem aí, porque me amarro no Foreigner e essa é, em minha opinião, uma das canções mais lindas de minha geração e de toda a história da música pop.

E torna-se mais bela pela lembrança que me traz.

É que a 1ª vez que a ouvi foi em uma baita festa pra lá da Curicica, um lugar no Rio que à época era provável que fosse demarcado pela Funai, mas que hoje deve estar coalhado de condomínios e shoppings com estátua da liberdade na entrada.

Não conhecia a dona da festa, fui arrastado por um camarada da escola, que tinha um fusca azul com um siri enfeitando a alavanca de câmbio.

Eu ainda não tinha idade para dirigir.

Mas como o fuscão azul vivia sem gasolina e a gente sem dinheiro, fomos de ônibus.

Na volta, perdemos o busum / baú e tivemos que andar durante duas horas – mato de um lado e de outro – no meio da madrugada.

Tudo isso para pegar um 2º ônibus que nos levaria até um ponto onde, então, pegaríamos um último até em casa.

Passamos mais tempo indo e voltando do que na festa.

E rimos de tudo, e nos divertimos com tudo.

E a música se tornou inesquecível, e todo aquele tempo também.

Por que a gente desaprende a relaxar quando cresce, quando vira adulto?

Não deveríamos, porque quando começamos a envelhecer, percebemos que precisamos urgentemente reaprender.

Um dia, um verão

Verão de 1984.

Mais de uma hora de ônibus até a praia, em Ipanema, posto 9, em frente à rua Joana Angélica.

Me achava o Menino do Rio, o André de Biase do subúrbio.

Amarrada no cadarço do calção a grana certa prum guaraná (Guaraná Taí, gostoso como um beijo!) e um pão de mel na padaria da esquina com a Visconde de Pirajá.

Na cabeça era tanto sonho que um verão só não bastaria para viver tudo.

No coração, a alegria de encontrar meus amigos e saber que iríamos rir muito, muito mesmo.

Nos ouvidos, essa canção do Slade, que tocava de 5 em 5 minutos na Rádio Cidade.

Nada de viver no passado, mas às vezes dá vontade de voltar lá rapidinho, dar uma choradinha de alegria e, pronto, encarar de novo o presente, que é o que existe de verdade.

https://www.youtube.com/watch?v=lwGMavksr5E

Notas

1 – Tanta escola pra fazer ou melhorar, tanto hospital pra fazer funcionar bem, tanto esgoto pra colocar e a discussão é sobre quem pode ou não usar fuzil.

(Parabéns aos envolvidos).

Bolso

2 – “Eu tenho arma há anos e nunca matei ninguém”. O sujeito fala como se ele, armamentista, fosse ser a regra em um país onde vai ficar 10 vezes mais fácil ter uma arma. E fala com um tom de quem está fazendo um grande favor a todos nós sendo civilizado e não fazer nenhuma cagada com o trabuco na mão.

Falta preparo

canstockphoto.com.br
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Teria sido suficiente e acima de tudo republicano dizer que “todos têm o direito de se manifestar, mas peço que entendam que o Brasil passa por um momento orçamentário difícil e os cortes são necessários, inclusive na educação”.

Mas ao chamar manifestantes de “massa de manobra” e “idiotas úteis”, o governante só reafirma seu (único) talento, conhecido há mais de 20 anos, de jogar gasolina na fogueira, além da sua não menos conhecida total falta de preparo para o cargo que exerce.

Sensacionalismo literário

André Dahmer
André Dahmer

O cartum de André Dahmer me remeteu a uma impressão / sensação que sempre tive em relação à literatura, e mais especificamente à crítica literária e ao gosto das editoras.

É só uma impressão, repito, mas me parece que livros cujos personagens são doentios, infelizes, psicopatas, violentos – por aí vai – são mais bem aceitos e ovacionados pela crítica literária.

Não tenho qualquer levantamento estatístico; apenas meu exemplo pessoal.

Em meu 1º livro, Voando Pela Noite (Até de Manhã), lançado em 1996 pela 7Letras, há um conto em que o personagem principal cheira cocaína o tempo inteiro, estupra uma colega de faculdade e se mata (e mata a garota) em um acidente de carro.

Sempre foi o conto preferido da editora, a ponto de, na 2ª edição, em 2013, ter passado a ser o último do livro, para “fechar com chave de ouro”.

Relembrando de alguns (bons) títulos que li nos últimos anos e que foram premiados, verifico que todos eles têm personagens principais doentios, tristes, assassinos ou que acham a vida uma bosta e o ser humano sem salvação.

Personagens ricos, sim, com muito conteúdo, mas nenhum feliz, nenhum “de boa” como se diz hoje, construindo no leitor uma perspectiva melhor do mundo e da humanidade.

Até me pergunto se não é uma derivação intelectual-literária do sensacionalismo dos programas popularescos de TV.

É normal que a literatura aborde a tristeza e suas primas, os desvios de comportamento e seus derivados, pois todos fazem parte da vida.

Mas alegria e a bondade também fazem.

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