Ouço uma das repórteres de que mais gosto da TV Globo em Brasília dizer que o bandido “efetuou três disparos”.
Qual a dificuldade que há em informar ao público que o bandido “deu três tiros” ou “atirou três vezes”?
Provavelmente a mesma que há em dizer que “o motorista estava dirigindo bêbado”, pois a opção parece que precisa ser, necessariamente, a mais complicada e pobre estilisticamente: “o motorista estava sob efeito de álcool” ou (pior ainda) “dirigindo após ter ingerido bebida alcoólica”.
Ninguém que encontre um amigo que tenha enchido a moringa vai contar para os outros que o viu após “ele ter ingerido grande quantidade de bebida alcóolica”. Vai é contar pra todo mundo que fulano “tava mamado”, “bebeu tudo” ou simplesmente estava bêbado.
Guardadas as devidas distâncias que o texto jornalístico deve ter da linguagem coloquial, ele deve estar muito mais próximo dela do que da linguagem intrincada e pedante da Polícia, das repartições públicas, dos administradores de empresa, dos advogados e dos médicos. Quando escrevem, geralmente todos esses acham que fazê-lo bem é fazê-lo difícil, e nós, jornalistas, estamos caindo nessa esparrela.
Principalmente os repórteres jovens, em sua maioria estão escrevendo como velhos, não se dando conta de que o dever profissional nos impõe traduzir para o homem comum o linguajar dos diversos profissionais com quem lidamos dia a dia.
Parece mesmo que no lugar de ensinarmos aos outros como se comunicarem de forma mais simples e objetiva, e por isso mesmo mais bonita, eles estão nos “ensinando” a escrever complicado. E feio.
Grato a você, pela sua participação.
Interessante: acabei de ouvir na TV uma pessoa dizer “estamos junto”. Arrepiei, mais uma vez. Mas o que não aguento mais são todos os repórteres, jornalistas, entrevistadores, não usarem mais a conjunção “porque” ou “por causa de”. Só dizem: “por conta de”. O que será que aconteceu ? Grata por me ajudar a entender…