O perigo de se estudar o que ensina a pensar

Guia do Filósofo Aprendiz na Internet - Blogger.com
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Filosofia, sociologia e história – especialmente filosofia – não são apenas disciplinas importantes.

São as mais importantes de todas e assim deveriam ser consideradas por quem monta os currículos escolares.

Com todo respeito e reconhecimento às outras matérias, é mais necessário que antes de conhecer equações, fórmulas que cruzam massa e velocidade ou combinações de metais e gases o ser humano estude sobre sua condição nesse planeta e seu papel nessa existência.

Fundamental também que identifique, já nos primeiros bancos escolares, o que é sua relação com o meio em que vive e o que aconteceu no país e no mundo antes de ele, aluno e futuro cidadão, nascer, para que erros do passado não retornem ao presente.

O problema é que as três disciplinas formam pessoas pensantes, capazes de contestar sistemas e quem os conduzem, o que é uma ameaça em potencial ao poder.

O sistema educacional brasileiro, opressor e apenas preocupado com resultados em programas de seleção (para que possa estampar índices de aprovação em outdoors de propaganda de colégios para brancos e ricos) privilegia matérias que exigem raciocínio, mas não pensamento.

E como já esperávamos, essa forma de ensinar nossos estudantes é também agora uma maneira de governar.

O helicóptero da hipocrisia

Paulo Brant, vice-governador de MG e o governador Romeu Zema (Novo)

Política é ambiente dos cínicos e partidos políticos são território dos hipócritas.

Todos eles, em maior ou menor grau, mesmo os que possuem certa consideração e preocupação com a sociedade, distanciam seus discursos de campanha ou de tribuna (quando seus representantes são eleitos) da prática diária nos parlamentos ou palácios de governo.

Mas, no quadro atual, o tal partido Novo se supera na hipocrisia.

É o partido do banqueiro João Amoedo, candidato que, após a comprovação dos esperados desatinos do governo Bolsonaro, começou a receber tantas declarações posteriores de voto no 1º turno do ano passado, que é de se estanhar que não tenha ido para o 2º turno.

É o partido que prega o Estado mínimo, enxuto, com arrocho nos gastos públicos, mas cujo vice-governador de Minas usou bem faceiro o helicóptero do governo para sair de um SPA de luxo no último feriado.

Mesma aeronave que, 2º a imprensa mineira, é usada sem parcimônia pelo governador, como se seu partido jamais houvesse falado em contenção de gastos, em Estado administrado como empresa.

É o partido do Estado mínimo.

Mínimo para o povo pobre; máximo para a mordomia dos governantes.

A fortuna nossa de cada dia

Brasília, Asa Norte, CLN 402 - Domingo, 21/4
Brasília, Asa Norte, CLN 402 – Domingo, 21/4

Ontem, dia do aniversário de Brasília, a cidade quase desapareceu debaixo d’água.

Caiu um temporal daqueles de se esperar que Noé passasse dando a última chamada para a Arca.

Estava tomando café em uma padaria chiquezinha, dessas que fazem pãezinhos fofos com semente de girassol da Malásia e amêndoas do Turquestão.

Como a rua a minha frente virou uma corredeira e não havia como sair, pedi uma taça de vinho (Rio Sol, feito no Vale do São Francisco, em Lagoa Grande, em Pernambuco, surpreendentemente delicioso) e até exerci meu direito dominical de bom burguês de postar uma foto da taça nas redes sociais.

Quando me dei conta do prazer daquele momento – a cidade submergindo e eu, sequinho, bebendo vinho – me lembrei do sujeito que lava carros em um estacionamento e que mora lá mesmo, numa velha barraquinha de camping, que, de tão pequena, para se deitar ele certamente precisa dobrar os joelhos.

E pensando se a barraquinha não virara barquinho de papel na força da enchente, me lembrei também das quase 300 pessoas trucidadas pela manhã no Sri Lanka, em nome da estupidez religiosa.

vINHO

Não me senti mal, tampouco culpado pelos cristãos inocentes ou pelo sujeito da barraquinha, ou por quem quer que fosse estivesse em risco de perder a casa naquele aguaceiro.

Mas refleti sobre o quanto sou afortunado nesse mundo de miséria material, moral e espiritual.

Se a gente olhar em volta, teremos, a todo momento, motivos para agradecer a sei lá quem ou a quê – depende da crença de cada um -, mas teremos.

PS: A barraquinha do sujeito do estacionamento continua lá, firme e forte, e ele todo feliz, como se morasse numa fortaleza de pedra.

Censure-me! Preciso aparecer

Mordaça

Em tempos de compartilhamento instantâneo de conteúdo, a censura serve muito mais como gasolina do que água na fogueira.

Proibir a veiculação de uma mensagem só faz com que ela ganhe com mais força ainda o continente sem fronteira das redes sociais.

Aí, acontece justamente o que o censor queria evitar: que todas as torcidas do planeta conheçam o que ele proibiu de direito, mas, devido ao mecanismo frenético da comunicação atual, não de fato.

A matéria da Revista Crusoé censurada pelo STF mantém o padrão das matérias nascidas a partir do vazamento (seletivo) da lava-jato: acusações sem provas de alguém que está de olho nos benefícios da delação premiada. Nada mais.

Com o dedo anacrônico da censura, ganhou holofote que não teria se a parte atingida ficasse calada e fizesse ouvido de mercador, como diziam avós distantes em nossa infância.

Tão lamentável quanto a censura é o STF ocupar seu tempo de modo corporativo, trabalhando a favor de interesses particulares de seus integrantes.

Fala-se, com razão, da qualidade do atual Congresso, muito aquém de um parlamento que já teve Ulysses e Tancredo, para ficar em apenas dois exemplos.

Qualidade maior não parece ter o Judiciário de hoje em dia.

O que não é, de modo algum, motivo para fechamento.

De nenhum dos dois.

Algo errado nos templos, igrejas, centros e terreiros

Poucos sabem que sou sujeito religioso.

Se me perguntarem, falo sobre o assunto com naturalidade, mas não tenho talento nem paciência para tentativas de converter o próximo.

Aos chatos insistentes na pregação, ofereço minha adaptação às palavras do próprio Cristo: Ide e pregai (Mas não enchei o saco)!

Criado em família espírita, permaneço estudando a doutrina trazida ao mundo por intermédio do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido como Allan Kardec.

Mas o faço em casa, distante dos centros espíritas que já frequentei, por não concordar com a maneira retrógrada, monótona e alienada, fora da contextualização do mundo atual com que o Espiritismo é levado às pessoas nesses lugares. Ao menos em Brasília, onde moro, tem sido assim.

O afastamento efetivo se deu ano passado, por ocasião das eleições.

Não aceitei que a Federação Espírita Brasileira (sem fazer campanha política, por favor, entendam!) não tenha em momento algum se manifestado alertando aos adeptos da doutrina que diversos pontos da plataforma política e do discurso de determinado candidato eram frontalmente contrários aos ensinamentos de Jesus.

Diocese de Sete Lagoas
Diocese de Sete Lagoas

Em resumo, não aceitei (e não aceito) que um cristão, no meu caso particular, os espíritas, tenha votado nesse candidato.

E votaram, muitos votaram, tanto é que fui execrado de vários grupos de zap do meio espírita com o velho argumento covarde e conivente com a opressão de que “aqui não é lugar para se discutir política”.

Quando na verdade a discussão não era sobre política.

Era sobre valores; cristãos, inclusive.

Agora a Folha de São Paulo traz pesquisa informando que entre os evangélicos a aprovação ao governo chega a 42%.

31% dos católicos, umbandistas e candomblecistas ouvidos consideram o governo ruim ou péssimo.

O percentual de reprovação mais alto está entre os que não possuem religião: 47% acham o governo ruim ou péssimo.

Os espíritas, como sempre, não são citados.

Olhando a pesquisa e casando-a com minha experiência recente, começo a concluir que não as religiões, mas seus líderes e doutrinadores nos templos, igrejas, terreiros e centros talvez não estejam transmitindo corretamente a mensagem de amor ao próximo que todas elas trazem em seus ensinamentos.

Frases

As quatro frases elementares – e possivelmente as únicas – dos eleitores do Bolsonaro nas redes sociais são (não necessariamente nesta ordem):
– Deixa de mimimi (essa é tópi. Aliás, tópi é o adjetivo preferido deles)
– Ah, me poupem!
– Magoou?
– ‘ceis ‘é’ tudo petista! Kkkkkkkk!!!!

Porco

PS: Tudo bem que o Exército nada tenha a ver com o Ministério da Justiça, mas é incômodo o silêncio de Sérgio Moro sobre o pai de família executado ontem no Rio.

Ignorância por interesse

É claro que ele sabe que o nazismo é de direita, ele não é tão ignorante, mas precisa dizer o contrário, porque os eleitores dele, desinformados, cegos quanto à história e imbecilizados ideologicamente acreditam que o nazismo é de esquerda. É simples.

Correio Braziliense
Correio Braziliense

A Grande diferença

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Em uma de minhas postagens contra as comemorações pelos 55 anos das crueldades promovidas pela ditadura militar, recebi comentário dizendo que a esquerda, naqueles anos de chumbo grosso, também matou, sequestrou e assaltou banco.

É alegação costumeira dos defensores da barbárie.

Desinformadamente (quero crer) se esquecem de que o Estado, quando considera que alguém infringiu a Lei ou atacou a ordem, deve investigar, prender, julgar e condenar ou absolver.

E não espancar um jovem, colocar sua boca no cano de descarga de um automóvel ligado e, por último, jogá-lo, possivelmente ainda vivo, de um avião em pleno mar alto, como foi feito com Stewart Angel Jones, em 1971.

Afinal, não estamos falando de um poder paralelo, pirata, mas sim do Estado, guardião da Lei e principal mantenedor da ordem, do direito. Da vida das pessoas.

Essa é a diferença.

Que não é pequena.

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