Noite de autógrafos

Voando pela noite (até de manhã)Na próxima 3ª feira, dia 8/10, estarei autografando meus livros Histórias de Pai, Memórias de Filho e Voando pela Noite (Até de manhã) – 2ª edição, no Martinica Café, na 303 norte, em Brasília. Se você não foi ao lançamento, apareça lá. Se foi, apareça do mesmo jeito. Até lá!
Histórias de pai, memórias de filho

A frieza das estatísticas como comportamento

A Secretaria de Segurança do Distrito Federal anuncia que em setembro foram assassinadas 43 pessoas em Brasília e nas cidades próximas.

Por incrível que pareça, o anúncio é feito em forma de contida comemoração.

Tudo porque setembro foi o mês de 2013 com menos assassinatos na capital brasileira e arredores.

A autoridade responsável pelo setor diz, em tom otimista, que a integração entre as forças de segurança está dando certo.

Ao menos para mim, é difícil aceitar que esteja dando certo qualquer política de segurança onde, na média, mais de uma pessoa foi assassinada por dia no mês passado.

Durante o ano todo, segundo a mesma contagem, houve 490 homicídios nas barbas do poder central do país.

Não tenho agora outras tabelas para comparação, mas não seria muito temerário arriscar que o número supere a monta de muita guerra mundo afora.

O que angustia, no entanto, não é somente essa insensata comemoração das autoridades, mesmo que velada, como se 43 vidas a menos fizessem parte de um escore aceitável.

Mais incômodo é a impressão de que a barbárie conquista, cada dia mais, a indiferença do Estado e da sociedade, e que, diante da crueldade, estejamos nos tornando frios e exatos como meros números de estatística.
Morte

Cidades melhores, pessoas nem tanto

maleducado

A Conferência das Cidades foi criada há dez anos quando o PT chegou à Presidência da República.

A ideia é simples: ouve-se a população sobre o que ela acha que as cidades precisam para serem lugares melhores de se viver.

O que as pessoas acham, pedem ou sugerem é, então, levado aos três níveis de governo.

Se o que se pede é feito pelos governantes é outra discussão, mas o objetivo da Conferência é esse: fazer das cidades lugares melhores.

Este fim de semana ocorreu a Conferência do Distrito Federal.

Quase mil pessoas reunidas discutindo como ter cidades melhores.

Na hora do almoço, pessoas furaram a extensa fila para pegar comida. Usaram desculpas ou apenas a cínica desfaçatez e entraram na frente de outros que aguardavam pacientemente a vez de se servirem.

Na hora do café, a imensa maioria encheu pratinhos com doces e salgados, como se há dias não visse comida. Houve casos, não raros, de serem necessários dois pratinhos para dar conta da esganação. Alguns colocaram nas bolsas o que era servido no bufê. Uma senhora foi flagrada levando para casa, além das guloseimas, uma caixa de suco de frutas. Um deprimente e constrangedor espetáculo de falta de educação, respeito ao próximo e, porque não dizer, desonestidade, já que há relatos sobre furto de celulares e de uma câmera digital.

Fizeram isso nos dois dias da Conferência. Conferência por cidades melhores.

As pessoas querem governos melhores, cidades melhores, e de quebra um país e um mundo melhores.

Só não querem tentar ser pessoas melhores.

Sobre como melhorar o mundo guardando um carrinho de supermercado

DSC_0275[1]

A foto acima foi tirada esta semana no supermercado Pão de Açúcar das quadras 404 e 405 Norte.

Não há como dizer se a pessoa que utilizou este carrinho o deixou no meio da vaga da garagem por preguiça, desleixo e pouco caso com o semelhante ou simplesmente por distração, por descuido não intencional.

Os dois últimos casos merecem complacência. Certamente não há ninguém que possa atirar a primeira pedra porque nunca prejudicou o semelhante sem perceber, sem intenção. A diferença é que há os que pedem desculpas e logo buscam reparar o erro. E há os que deixam por isso mesmo. Aí, não será uma questão de pedras para arremessar, mas sim de cabeça tranquila para pôr no travesseiro.

O cuidado com o semelhante exige atenção redobrada para os distraídos. E para os desleixados, a velha sugestão: não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você. Na situação da foto, como é chato chegar no estacionamento e ter que sair do carro para tirar um carrinho “esquecido” bem no meio da vaga. Chato e bem mais trabalhoso do que apenas empurrá-lo por dois ou três metros e colocá-lo em um canto onde não vai atrapalhar ninguém.

Não são apenas grandes gestos ou atos heroicos que podem tornar o mundo um pouco melhor.

Coloque um balde debaixo de uma pequena goteira. Uma hora ele estará cheio.

Rádio das histórias deliciosas

Comecei a trabalhar em rádio em 1987, aos 19 anos, 26 anos atrás, portanto. E para espanto e escândalo, nunca sei se hoje, 25 de setembro, é dia do rádio ou do radialista. E como no momento em que digito essas linhas estou com problema na internet e não consigo acessar o google, vou levar a dúvida para vocês. Mas se fosse apostar, arriscaria a primeira opção, dia do rádio.

Acho que nenhum veículo de comunicação possui histórias tão divertidas.

Meu saudoso colega Paulo Donizetti foi um excelente locutor noticiarista e colecionador de casos ocorridos nos estúdios das emissoras Brasil afora. Um de seus preferidos aconteceu em Varginha.

Era domingo, final de tarde, e o locutor estava há mais de seis horas trabalhando e trancado no estúdio. Lá pelas tantas, o operador de áudio soltou a vinheta para informar tempo e temperatura do momento. O locutor, aquele bem padrão AM, voz de trovão, não titubeou: “

-Neste momento, em Varginha, o tempo é bom…

Mas foi imediatamente interrompido pelos gestos enlouquecidos do operador, que do outro lado do vidro gesticulava e mexia os lábios:

-Que bom o quê, sô! Tá doido? Tá chovendo é pra caralho!

O locutor, mestre na arte de se livrar de saias justas, imprescindível quando se trabalha em rádio, não se fez de rogado:

-Sim, tempo bom…bom para você ficar em casa, debaixo das cobertas, curtindo nossa programação!

EPSON DSC picture

Outra história eu vivi na carne. Ou melhor, no ouvido.

Houve um tempo em que os repórteres da CBN encerravam toda e qualquer intervenção com o lendário slogan “CBN, a rádio que toca notícia”. Eu era repórter e cobria uma manifestação tumultuada no centro do Rio. De repente, os manifestantes resolveram fechar a rua. Trânsito parando, polícia chegando, aquele bafafá, e eu, ao vivo, no celular, descrevendo tudo. Empolgado, encerrei o boletim confirmando a informação: os manifestantes decidiram fechar a rua. Mas o que seria um final apoteótico, virou piada. Errei feio na assinatura: CBN , a rádio que toca na RUA.

No estúdio, o âncora era Marcus Aurélio, minha referência de apresentador de rádio e grão-mor na arte de se livrar de saias justas. Ele não deixou a bola cair, bateu de primeira.

-Sim, André Giusti! Toca na rua, em casa, no trabalho, no táxi, em qualquer lugar a CBN toca.

Parabéns a todos nós que amamos o rádio e vivemos a delícia dessas histórias.

Microfone

Poesia como talho de bisturi

Conhecia Fabrízio Morelo de ouvir falar e de vista, de uma ou outra noite de lançamento literário. E confesso que durante um bom tempo, o poeta perambulou pelo abismo da minha dificuldade de, no geral, ligar nomes a pessoas.

Até que tive a oportunidade de mediar um debate do qual ele participou cerca de um mês atrás e, mais recentemente, subir com ele ao palco para o sarau que abriu o show de Raimundo Fagner no Açougue Cultural T-Bone, em Brasília.

Então, trocamos livros. Sim, escritor é uma espécie adepta do escambo. Se você está começando na carreira, saiba que trocar livros com os pares é uma forma de fazer seu trabalho circular e ser lido. Melhor ainda se a troca for com bons autores.

E é o caso de Morelo. Em troca de meu A liberdade é amarela e conversível, recebi Tediário, um delicioso livro de poemas.

Tediário

A comparação com bisturi é banal, mas não me ocorre no momento nada mais apropriado: ele tem uma escrita curta, seca, objetiva, incisiva. Apesar disso – ou talvez por isso – musical, cadenciadamente melodiosa. Explica-se: o poeta também é músico, transita no samba com a mesma desenvoltura que o faz na poesia.

Mas e quem, feito eu, não tem ouvido de bamba?

Fácil de resolver. Feche os olhos e imagine um blues, que também cabe na poesia de Morelo.

Confira!

se a gente se cruza
a gente se espanca

e se se cruza
a mágoa é tanta
que mesmo ali
toda a gente
se espanta

deu vontade de dizer:
vá cuidar da sua vida

mas o despropósito
o encanto
é fazer de conta
que todo dia
é dia santo

Comunicação não é coisa fácil

O crítico de cinema escreveu bonito, usou frases de efeito, descreveu imagens de impacto, mostrou conhecimento ao lembrar escolas da sétima arte, citou diretores famosos e suas influências contemporâneas.

Só não conseguiu dizer se gostou ou não do filme.
dúvida

Rolar para cima