André Giusti - foto: Luana Lleras
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janeiro, 2010

31 jan 2010 |

Poeminha pra essas noites de lua cheia

A quantos lugares retorno vendo a lua. Quantas épocas vivo outra vez olhando a lua. Quantos outros volto a ser quando nasce a lua.

29 jan 2010 |

Pai moderno, filho antigo.

Quando viu, a pequena de dois anos estava mexendo no aparelho, querendo pendurá-lo pelo fio do headphone. O coração veio-lhe à boca. 120 GB, dez prestações, e ainda estava na terceira. -Filha! Larga o Ipod do papai! Levantou num salto da poltrona, mas logo deu-se conta de que movimentos bruscos assustam as crianças, da mesma [...]

28 jan 2010 |

Aki naum

A internet não mudou apenas a vida de cada um de nós. Tem mudado também a escrita. Ou esculhambando-a, dependendo do ponto de vista. No já envelhecido twitter, aqui virou aki. Antes que os “twiteiros” se arvorem na defesa de que um K ocupa menos espaço do que um Q e um U juntos, algo [...]

27 jan 2010 |

Homenagem a Ariosto Teixeira

O poeta e jornalista Ariosto Teixeira foi homenageado nesta terça-feira à noite em Brasília. O grupo de leitura do qual ele participava se reuniu para a homenagem ao amigo, lendo, é claro, poemas de Ariosto. Ele morreu no último sábado, depois de muita luta contra a hepatite C. Não conheci esse gaúcho que partiu para [...]

26 jan 2010 |

Preconceito às avessas.

Desde que a televisão mostrou o governador pegando dinheiro de propina e o deputado enfiando grana na meia, que Zedias anda com umas idéias estranhas.

Passou a achar esquisito tanto rico na cidade.

Acha estranho que não haja um fim-de-semana em que não veja uma Ferrari desfilando pelo parque que fica na beira do lago, onde leva as três filhas no Fiat que ainda está pagando.

Não é raro cruzar com um Porsche estalando de novo, cortando a cidade com aquele barulho fantástico de motor. Fantástico e caro.

Zedias olha espantado as casas. “As pessoas devem se perder aí por dentro com tantos quartos e tantas salas”, ele pensa e sobe as escadas do prédio em que mora.

“Aqui não tem indústria, nada se produz que justifique tanto luxo”, e Zedias anda mesmo encafifado.

Tem dito aos mais chegados que desenvolveu uma espécie de preconceito ao contrário, contra rico.

“Pois é, vejo um bacana com carro de luxo importado, entrando numa mansão, já acho logo que roubou dinheiro público, que meteu a mão na grana da escola, do hospital.”

As pessoas olham Zedias de viés, uns sorrindo, outros franzindo a testa. Os amigos são condescendentes. Ora, os ricos parecem pessoas ilibadas, dignas, íntegras. É difícil acreditar que aquele gordo senhor entalado em colarinhos, sempre tão simpático nos jornais, que aquela senhora sempre promovendo chás de caridade metam a mão no erário, participem de esquemas.

“Ô Zé, tem gente que ganhou dinheiro honestamente, que compra carrão por que fatura alto, que construiu mansão por que soube guardar”.

“Pode ser, pode ser”, Zedias anda mesmo cético, descrente, não entende porque a sociedade não defende do mesmo jeito o negro pobre e de bermuda que cruza a rua de belas casas e desperta olhares de suspeita, de desconfiança.

“Ando sentindo umas vontades de gritar toda vez que um carrão para do meu lado no sinal. Dá vontade de berrar polícia, pega ladrão, roubou o meu dinheiro, o da criança pobre, o do velhinho doente!” e Zedias confessa meio a sério, meio brincando.

Até agora tem se controlado.

Até agora.

25 jan 2010 |

Goyáz

Não chame Cidade de Goiás de Goiás Velho. É errado e os moradores não gostam. Em um mundo de smartsphones e telas planas, é difícil imaginar que velho e antigo não sejam, necessariamente, a mesma coisa. Cidade de Goiás, ou apenas Goiás, é antiga por que a população abraçou o patrimônio histórico. Preservar é atividade [...]

22 jan 2010 |

Amiga Loba

Lobo e loba embebedados, escorados no carro, de vez em quando um no outro, pois nos conhecemos há tanto tempo que isso nos é permitido sem pedir permissão. O bar faz as primeiras ameaças de fechar. Três e alguma coisa da manhã. Daríamos tudo para que ainda não houvesse passado das nove do dia que [...]

21 jan 2010 |

A Conhecida

Eu a encontrava ocasionalmente ao longo dos dias de trabalho, um convívio irregular que não permitia maior aproximação. Trocávamos um cordial boa tarde e não íamos além de algumas considerações sobre a temperatura e as longas esperas nas ante-salas. Ela, a falar trivialidades, preferia o silêncio que a mantinha distante dos outros e que bem [...]

20 jan 2010 |

Três noites de lua cheia

O comissário parou ao lado de nossas poltronas e disse a meu pai que a cidade que sobrevoávamos naquele momento era Ihéus, de acordo com o comandante. Meu pai pegou-me e também minha irmã, uma de cada vez, e nos pôs na janelinha do avião, narizes achatados no vidro. Vi que as luzes da cidade [...]

19 jan 2010 |

Voando pela Noite (até de manhã) e Eu nunca fecharei a porta da geladeira com o pé em Brasília estão no meu site 2

Quando vim morar em Brasília, quase 12 anos atrás, o computador foi a solução para segurar a barra de ter me visto, de uma hora para outra, pego pelo colarinho e jogado no meio do Planalto Central sem conhecer nada nem ninguém. A cidade me foi uma imensa dor no início, feita de céu azul, [...]