Prêmio São Paulo de Literatura: indicados e favoritos

Por Alexandre Pilati*

 

No último dia 29 de maio, foi divulgada a lista dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2010. Composto por duas categorias, a de melhor livro do ano e a de melhor autor estreante, o evento oferece R$ 200 mil a seus vencedores e após três edições já se tornou um dos mais importantes do país, sendo tomado como prévia do Prêmio Portugal Telecom. O prêmio é uma promoção da secretaria de estado da cultura de São Paulo.

Nesta terça, dia dois de agosto, numa cerimônia no Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista, serão conhecidos os vencedores. Entre os nomes que concorrem ao prêmio principal,o de “Melhor livro do ano” estão os de Chico Buarque, João Ubaldo Ribeiro e o do angolano Ondjaki. Já na categoria “Melhor Autor Estreante” destacam-se os nomes de Carlos de Brito e Mello, Edney Silvestre, Ivana Arruda Leite, entre outros. A editora de maior destaque é a Compahia das Letras que conseguiu emplacar seis entre os vinte títulos indicados nas duas categorias.

Melhor livro do ano (2009):

Bernardo Carvalho, “O filho da mãe” (Companhia das Letras)

Chico Buarque, “Leite derramado” (Companhia das Letras)

João Ubaldo Ribeiro, “O albatroz azul” (Nova Fronteira)

Luiz Ruffato, “Estive em Lisboa e lembrei de você” (Companhia das Letras)

Ondjaki, “AvóDezanove e o Segredo dos soviéticos” (Companhia das Letras)

Paulo Rodrigues, “As vozes do sótão” (Cosac Naify)

Raimundo Carrero, “A minha alma é irmã de Deus” (Record)

Reinaldo Moraes, “Pornopopeia” (Objetiva)

Ricardo Lísias, “O livro dos mandarins” (Alfaguara)

Rodrigo Lacerda, “Outra vida” (Alfaguara)

Melhor Livro do Ano – Autor Estreante (de 2009):

Brisa Paim Duarte, “A morte de Paula D.” (Edufal – Alagoas)

Carlos de Brito e Mello, “A passagem tensa dos corpos” (Companhia das Letras)

Carol Bensimon, “Sinuca embaixo d’água” (Companhia das Letras)

Cíntia Lacroix, “Sanga menor” (Dublinense)

Claudia Lage, “Mundos de Eufrásia” (Record)

Edney Silvestre, “Se eu fechar os olhos agora” (Record)

Ivana Arruda Leite, “Hotel Novo Mundo” (Editora 34)

Ivone Castilho Benedetti, “Immaculada” (WMF Martins Fontes)

Lívia Sganzerla Jappe, “Cisão” (7 Letras)

Maria Carolina Maia, “Ciranda de nós” (Grua Livros).

Os favoritos:

Leite derramado de Chico Buarque

Texto que mostra o Chico Literário maduro. No enredo, um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. A fala desarticulada do ancião cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.

A passagem tensa dos corpos Carlos de Brito e Melo

Construído de forma original, com 156 capítulos curtos, A passagem tensa dos corpos trata de um tema consagrado, a morte, com uma abordagem e ambientação surpreendentes.

O narrador-personagem, figura indefinível e incorpórea, não é visto nem percebido por ninguém. Sua principal ocupação é percorrer cidades e registrar as mortes que encontra pelo caminho. Numa dessas localidades, há um morto insepulto, cuja família não parece disposta a velar ou enterrar. Como se nada tivesse acontecido, o cadáver é mantido amarrado à cadeira na mesa da sala, a esposa e a filha se ocupam dos preparativos para o casamento da menina, e o filho do morto permanece trancado no quarto.

Hotel Novo Mundo – Ivana Arruda Leite

Hotel novo mundo é o primeiro romance da contista, blogueira e cronista Ivana Arruda Leite lança. O enredo contempla um hotel barato do centro de São Paulo, onde se cruzam as histórias de várias personagens, tendo como figura de ligação a personagem Renata, uma ex-prostituta que, traída pelo marido rico, abandona sua casa no Rio de Janeiro e transfere-se para a metrópole paulistana. Um livro em que, segundo Ignácio de Loyola Brandão, “a ironia, o sarcasmo e o humor cortante saltam desde a primeira página”.

*Alexandre Pilati participa comigo do bate-pao literário na BandNews FM 90,5 – Brasília, todas às 2ªs às 16h51, com reprise às 3ªs às 11h31.

Dentinho

Dentre as tantas lembranças que a toda hora saltavam o muro da memória da infância para as ruas da idade adulta, estava a do pai arrancando seus pequeninos e molengos dentes-de-leite. Para o velho, era tarefa simples, tal como cuspir caroços depois da bocada na melancia. Vinha com linha de costura mesmo, longe de qualquer neurose asséptica. Enlaçava o dente que cambaleava feito bêbado, e para o garoto que contraía os bracinhos por causa de alguma possibilidade de dor, fazia gracejos, dizia piadas bobas que até hoje se contam aos pequenos. Quando o menino dava por si, lá estava o dente rodando no ar, amarrado à linha ruborizada de sangue e molhada de saliva. O pai, então, punha sobre o buraquinho na gengiva um pequeno chumaço de algodão seco para estancar o sangramento. Mas o serviço só estava completo quando dava uns tapinhas no rosto do filho e dizia: parece uma velha banguela.

Agora, há quatro dias a filha o perseguia pela casa: papai, papai, meu dente tá mole, e quando ele parava para ver, ela fazia uma careta mostrando as gengivas, e com o dedinho cutucava o dente que se despedia. Meio por pressa, e um tanto por receio, se escusava: ainda não tá na hora, e desaparecia em algum compromisso do dia.

Mas naquela noite, não houve jeito. A filha o escorou no corredor entre os quartos, e cobrou dele, com a firmeza das criaturinhas de seis anos: pai, hoje você tem que arrancar meu dente. E mostrou as duas arcadas trincadas, o dentinho indo e voltando na ponta do pequeno dedo.

Ele reparou nos três outros espaços vagos. A mãe, a avó e até a babá já haviam feito o serviço do qual até aquele momento ele fugia.

E como os tempos mudaram a consciência das pessoas sobre pequenas coisas simples, foi ao banheiro e pegou fio dental, álcool e algodão. Limpou as mãos, partiu o fio, fez um laço e tentou passá-lo em volta do dente, que mesmo sem sair do lugar, escapou três ou quatro vezes. A menina se contraindo de medo dificultava o trabalho. Ela não acreditava quando ele dizia que não iria doer nada. Ele também não acreditava no pai.

Até que o laço pegou, estava pronto, era só puxar. E como alguém que pula o alto de uma escada sem pensar muito bem no que está fazendo, ele deu súbito golpe com o fio e, ato contínuo, ficou olhando o dentinho balançar no espaço, dependurado. A filha gritou, mais por susto que por dor. Ficou de boca aberta, um pouco de sangue escorrendo da gengiva, pedindo algodão para colocar no mais novo buraquinho da boca. Ele ergueu um pouco mais o dente e o fio dental avermelhado, como quem contempla um pequeno troféu. Olhou para ela: parece uma velha banguela, e sentiu-se um pouco mais pai depois daquilo.

O Bem amado

Fui assistir sem muita expectativa e até sem tanta vontade – queria ter ido ver o filme do Woody Allen – ao O Bem Amado. Esses filmes da Globo Filmes, feitos para serem exibidos na tela quente dois anos depois de estrearem na telona, sempre me desanimam um pouco.

Mas O Bem Amado merece ser visto.

A primeira razão para se assistir ao O Bem Amado são as interpretações. Marco Nanini não nos faz sentir saudades de Paulo Gracindo, ainda mais quando contracena com as cajazeiras, encarnadas nessa versão por Zezé Polessa, Andréa  Beltrão e a ótima Drica Moraes. José Wilker compôs um eca Diabo diferente do concebido por Lima Duarte na época da TV. O de Wilker é soturno e dá calafrios quando fala, como aliás cabe a um assassino. O de Lima Duarte espalhafatoso, divertido, mais adequado ao formado televisivo.

Confesso que achei o talento de Matheus Nachtergaele meio perdido em um tanto burocrático Dirceu Borboleta. Nesse caso, dá nostalgia da versão anterior, de Emiliano Queiroz, com seu impagável “óóóóóóó coroneeeeel!!!!” . O mesmo vale para o Nesinho do Jegue, repaginado com o nome de Seu Neném, mas que deixou no passado o inesquecível “Viva Odorico!” ou “Morra Odorico!”,  dependendo se estivesse ou não bêbado.

A segunda razão para se assistir ao O Bem Amado é a preservação do texto de Dias Gomes em boa parte do tempo. Isso, além de nos matar de rir, nos faz pensar com melancolia na pobreza dos textos da teledramaturgia atual. Enquanto no filme Odorico Paraguaçu brada seu bordão “ É com a alma lavada e enxaguada “, temos que ouvir nas novelas uma repetição inesgotável de expressões já encardidas na vida real, tais como “vamos combinar“ e “ninguém merece”. Pensando bem, ninguém merece mesmo.

Promoção

O site Sobrecapa começou hoje uma promoção com meu último livro de contos, A liberdade é amarela e conversível.

O Sobrecapa é voltado para a literatura nacional.

Quem toca a página valente e talentosamente é a escritora Ana Cristina Melo, incansável divulgadora do que os escritores brasileiros publicam. Recentemente, Ana estreou na literatura infanto-juvenil com Caixa de desejos.

Além do meu livro de contos, quem participar da promoção também concorre à coletânea 50 anos em seis – Brasília, poesia e prosa, lançada em maio e que, além de mim, reúne Liziane Guazina, Fernanda Barreto, Nicolas Behr, José Rezende Jr. e Pedro Biondi.

Tenho a “insuspeita” opinião de que você deveria participar da promoção.

Acesse http://migre.me/ZYZ1

Um pouco da literatura do país campeão do mundo

Por Alexandre Pilati*

 

Tendo ganhado a Copa do Mundo da África do Sul, é bem provável que a Espanha vire o país da moda nos próximos meses. Muita gente, levada pelo título esportivo, vai querer conhecer mais este país da Península Ibérica que é um dos mais ricos e fascinantes da Europa. A literatura não foge à regra e uma série de lançamentos programados para esse ano pode fazer o leitor do Brasil se familiarizar mais com a produção literária espanhola.

Entre esses lançamentos destacamos três títulos para o nosso ouvinte. O primeiro é um livro de crítica literária que é um verdadeiro mapa da literatura espanhola. Escrito pelo professor da USP Mario Miguel González, o livro intitula-se Leituras de Literatura Espanhola. Os outros dois destaques são lançamentos de autores contemporâneos espanhóis. O primeiro é Veneno y Sombra y Adiós do romancista Javier Marías. O outro é um livro escrito por Enrique Vila-Matas, intitulado História Abreviada da Literatura Portátil.

Leituras de Literatura Espanhola

Em Leituras de Literatura Espanhola, publicado pela editora Letraviva, o professor de literatura espanhola da Universidade de São Paulo Mario M. González, que é argentino de Córdoba e naturalizado brasileiro demonstra por que ele é uma das maiores autoridades em literatura medieval e espanhola do país. O objetivo do livro é “articular os momentos fundamentais da estruturação da literatura espanhola” dimensionando-os como fatos históricos. As características da literatura espanhola segundo ele, têm relação direta com o desenvolvimento peculiar da Espanha, país que deu ao mundo seu primeiro romance verdadeiramente transgressor, o Dom Quixote de Cervantes. Esse papel pioneiro se deve sobretudo à insubordinação ideológica de autores cuja independência provocou o advento de obras-primas, mas também a prisão e perseguição desses escritores. O recorte crítico do professor vai da Idade Média até o século 17, apontando as linhas mestras de uma literatura que exportou um modelo de modernidade para o mundo todo.

Veneno y Sombra y Adiós

O lançamento de Veneno y Sombra y Adiós, de Javier Marías é prometido para o mês de setembro pela editora Companhia das Letras. Este é o terceiro volume da ambiciosa trilogia Seu Rosto Amanhã, que o historiador inglês Peter Burke considera o melhor romance da década. Já foram publicados no Brasil Febre e Lança (volume 1, em 2003) e Dança e Sonho (volume 2, em 2008). Nesse terceiro volume o protagonista é um agente que trabalha para o serviço secreto britânico e foi amigo de Ian Fleming, o criador de James Bond. Mesmo assim, não se trata de um livro de ação, e sim de reflexão. Javier Marías cria um espaço filosófico onde convivem o real e o inventado, ambos com uma linguagem tão particular e que o leitor deve estar atento para descobrir onde começa a verdade e acaba a mentira nesses escritos.

História Abreviada da Literatura Portátil

Já em História Abreviada da Literatura Portátil, que a editora Cosac Naify promete lançar ainda em 2010, o escritor catalão Enrique Vila-Matas, de 62 anos, fala de uma sociedade secreta supostamente criada na África em 1924: a conjura “shandy”, da qual teriam feito parte García Lorca e Walter Benjamin. Esses escritores de “literatura portátil” tinham de manter o mesmo estilo de vida e, fundamentalmente, assumir a postura de pesos ligeiros da história literária. Inovadores, nômades e insolentes, eles seriam um pouco como o próprio autor Vila-Matas, herdeiros de um espírito transgressor que fez os espanhóis incendiarem a literatura dos séculos 16 e 17.

Alexadre Pilati e eu conversamos sobre literatura toda segunda-feira, às 16h51, na BandNrews FM, 90,5, com reprise às terças-feiras, às 11h31.

Som

Não quero o rádio ligado

nem mesmo a TV sem som.

Levante os vidros do carro

feche as janelas de trás.

Que não me chegue nenhum

ruído de trânsito

falatório no corredor

choro de criança

ou

cachorro latindo.

Preciso do silêncio do nada

movendo-se no vácuo.

Quero a mudez insolúvel das pedras.

Preciso escutar os meus erros

os gritos de meus desatinos

e na exaustão de todos eles

finalmente ouvir a paz.

Festa de Aniversário

Outro dia publiquei aqui uma crônica sobre uma festa de aniversário. Leitor do blog, o servidor público aposentado Mauro de Albuquerque Madeira enviou texto sobre o aniversário de uma das netas. Na realidade, a festinha e a história da menina ocupam apenas algumas linhas no início. Logo em seguida, vem uma bela reflexão sobre as lições de vida e felicidade que as crianças aplicam em nós, adultos. Confiram.

 

Por Mauro de Albuquerque Madeira

Hoje Helena faz cinco anos. Ontem foi a festinha de aniversário, no playground do prédio de Raquel, com direito a pula-pula e mágico, que fez a alegria de crianças e adultos, com seus coelhinhos e pombas saídos da cartola. No meu tempo de criança não havia disso, éramos sete, família pobre e descuidada desses encantamentos infantis. Imagino que as crianças de hoje devem crescer com mais autoconfiança e auto-estima diante da vida.

Helena nasceu prematura de sete meses, estávamos em Porto Alegre assistindo ao casamento de Vinicius e Sibele. De Gramado eu e Teresa iríamos dar um giro pela região vinícola do Rio Grande do Sul, quando recebemos telefonema sobre o nascimento prematuro da lourinha Helena. Por sorte Raquel e André tinham voltado dois dias antes e a bichinha nasceu em Brasília. Uma prematura quarenta dias na incubadeira iria complicar as coisas lá no sul.

Mas Helena foi valente e suportou bem o isolamento naquele receptáculo de vidro, um berço que substitui o útero largado antes do tempo. Hoje ela é uma criança linda, viva, inteligente, branquinha como uma branca de neve, no meio das irmãzinhas igualmente lindas e fofas.

As sete netas são um jardim humano, numa escada de oito anos aos dois, de Gabriela a Carolina, como um escorrega festivo da vida, que, em dias de festa, vira um pula-pula, em que a infância se deleita no auge do prazer de brincar, a coisa mais deliciosa da vida.

Brincar é o supra-sumo do viver, os adultos também acham, quando jogam bola ou totó, viajam ou dançam. Trabalhar é o intervalo de obrigações que medeiam o prazer lúdico de não ter obrigações. E fico pensando que agora a excessiva competição do futebol das Copas estraga o mero prazer do jogo, que acaba virando uma estratégia rígida de vencer a qualquer custo, mesmo sem gols e poucos dribles.

Para as crianças o fundamental é brincar, pois a vida não tem objetivos, embora os adultos a estraguem lhe metendo tarefas, deveres, horários, lucros, mais valia, frustrações. A correria das crianças num playground é um esvoaçar de vestidos e blusas, bolas e balões, sapatos e meias, como a dizer que tudo seria mais fácil se ninguém ficasse adulto, sério, competidor, depredador. O reino da imaginação, da fantasia mede um metro de altura e a gente tem de se agachar para beliscar a bochecha, penetrar no brilho dos olhos da inocência, da beleza pura, da essência lúdica que é o viver infantil.

I Love Rock`n Roll

A escritora Liziane Guazina, amiga e parceira na coletânea 50 anos em seis – Brasília, poesia & prosa, pôs no Facebook um vídeo do início dos anos 80 – aliás, do início do vídeoclip – de Joan Jett and The Black Hearts. A música é a épica I Love Rock`n Roll, do primeiro disco da cantora, em que ela aparece com um blazer rosa e um lenço preto. A canção foi da trilha sonora de outro sucesso, só que do cinema: Flashdance, de 1983.

Liziane diz que o vídeo é da fase Rock`n Roll dela. Eu, volto trinta anos no tempo, 1980, quando eu tinha 12 anos e o disco foi lançado. Fui e voltei a pé da escola por mais de uma semana, economizando os trocados para comprar o LP (sigla de Long Play, para quem nem desconfia). O bolachão de vinil preto marcou a minha vida não só pelas músicas, mas porque foi o primeiro disco de rock que comprei na vida, o que puxou uma fila de mais de mil ao longo dos anos.

Apesar do sucesso inicial, Joan Jett só teve mais duas ou três músicas que estouraram no Brasil, uma delas Bad Reputation, ressuscitada no início da última década em uma regravação para a trilha do primeiro filme do Shrek. Estranho anonimato, enquanto outras bandas chatérrimas alugaram e ainda alugam os ouvidos rockeiros da nação brazuca.  

No ano passado mandei vir dos EUA seis CDs dela, alguns ainda com os Black Hearts. Lá ela é considerada o Chucky Berry de saia. É justo. A mulher é uma das maiores vocalistas e guitarras-base da história do Rock.

Joan Jett deve ficar mais conhecida no Brasil a partir do lançamento do filme The Runaways, o nome da banda dos anos 70 só de mulheres, da qual ela era a vocalista. Joan é interpretada por Kristen Stewart. Em março, a cantora e guitarrista deu uma entrevista sobre o filme e a carreira à agência Reuters, reproduzida no site de O Globo. (http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/03/18/joan-jett-revive-seus-sonhos-em-filme-the-runaways-916104444.asp ) . Vale a pena conferir e esperar o filme. Para quem não conhece, é oportunidade de conhecer. Para mim, é a chance de ver parte da história de uma carreira brilhante no mundo do Rock, mas pouco conhecida no Brasil. Claro, sem ter que ir e voltar a pé do trabalho para conseguir comprar o ingresso do cinema.

PS: Ah, Liziane, minha fase rockeira tem 42 anos, viu?

Show de mágica

Ele estava radiante vendo a filha vestida de branca de neve no encantamento de sua festinha de cinco anos. A fantasia era presente dele, e sempre o envaidecia comprar o presente de aniversário ou natal para as filhas. Era uma espécie de satisfação paterno-material: trabalhar e comprar uma fantasia de branca de neve para a do meio, de cinderela ou outra princesa para a mais nova, a bicicleta sem rodinhas laterais para que a mais velha finalmente aprendesse a andar. Era o complemento palpável da educação cheia de amor, carinho e limites que tentava proporcionar. Ah, e o cachê do mágico da festinha também saíra do bolso dele. Ninguém precisava saber, servia de alimento para seu orgulho de pai.

Agora seu coração apertado de ternura se desmanchava pela pequena, que fora puxada ao pequeno tablado pelo homem da cartola de onde saíam coelhinhos, pombas brancas e lenços coloridos.

O mágico perguntava à criança quem morava com ela. Seus brilhantes olhos azuis aumentados pelos óculos procuraram a mãe pelo salão. A mamãe, ela respondeu. Natural, é mesmo a primeira pessoa que vem à cabeça de uma criança, pensou o pai. O mágico perguntou de novo: quem mais? E os olhos azuis retornaram ao ponto onde encontraram a mãe e a resposta anterior foi dada outra vez. O mágico insistiu: sim, mas quem mais mora com você? E pela terceira vez ela deu mamãe como resposta.

Lembrou-se das irmãs quando o mágico, para risadas da platéia, puxou por ela ainda uma vez: mas é só a mamãe que mora com você?

Nos segundos que se seguiram pairava ainda um ar de graça, mas já um tanto abatido pelo constrangimento. Algum dos convidados mais próximo do espetáculo tentou ajudar soprando à menina a lembrança “e o papai? E o papai?”. A criança, então, se dando conta, falou papai, mas não o procurou com os olhos pelo salão.

O coração dele se manteve apertado, mas agora era somente de tristeza e daquela espécie de solidão que bate quando estamos cercados de meio mundo. Do meio da platéia, alguém brincando disse “pai ausente”, e sorrindo amarelo a única coisa que ele desejou foi que o mágico bolasse um truque que o fizesse sumir dali.

Relembrando Vinicius de Moraes

Por Alexandre Piati.*

Recentemente o nome do poeta e compostior brasileiro Vinícius de Moraes ocupou o noticiário nacional e estrangeiro por dois motivos: os trinta anos de sua morte, ocorrida em 1980 e a sua promoção post mortem a Ministro de primeira classe do Itamaraty.

Foi com emoção que o Brasil recebeu, no dia 9 de julho de 1980, a notícia da morte do poeta e compositor Vinícius de Moraes. Depois de passar a madrugada compondo músicas infantis com seu parceiro Toquinho, sentiu-se mal ao acordar pela manhã. Antes que a ambulância chegasse, morreu ao lado de sua mulher Gilsa. Estava com 66 anos de idade.

No dia 28 de junho, o presidente Lula sancionou a Lei 12.265, de 16 de junho de 2010, que promoveu post mortem o diplomata Vinicius de Moraes a Ministro de Primeira Classe da Carreira de Diplomata. Assegura-se aos atuais dependentes de Vinicius os benefícios de pensão correspondentes ao cargo para o qual se fez a promoção.Vinicius entrou para a carreira diplomática após disputadíssimo concurso, em 1943. Em 1946, serviu em Los Angeles, seu primeiro posto. Vinicius foi exonerado do Itamaraty em 1969.

Os poemas de Vinícius revelam um grande autor brasileiro

Esses dois fatos servem para relembrarmos um dos maiores poetas brasileiros do século XX. E uma das melhores formas é tomar contato com as recentes publicações da Cia das Letras que recuperaram ótimos livros de poemas de Vinícius, dono de uma obra poética consistente que ficou ofuscada para o grande público pela sua carreira de compositor de MPB.

Entre os livros que a editora lançou está o primeiro livro de poemas de Vinícius, intitulado O caminho para a distância, publicado originalmente em 1933. O livro, que, desde 33 nunca havia sido reeditado, é marcado pela intensidade dos temas, dos sentimentos e da linguagem, escrito por um poeta que – com apenas dezenove anos – surpreendeu o público e a crítica com seus dramas místicos e existenciais.

Outro título importante é Poemas esparsos, que é um volume surpreendente. Nele, força, beleza, humanidade e apuro estético – comuns a todas as obras de Vinicius de Moraes – acham-se aqui numa configuração imprevista: uma seleção de poemas inéditos, ou publicados postumamente, a que se juntaram aqueles que não foram incluídos na Nova antologia poética. O volume cobre um vasto período da produção do poeta: do início dos anos 30 a meados dos 70. Este volume reúne dois altos momentos da obra de Vinicius de Moraes. Poemas, sonetos e baladas, publicado em São Paulo em 1946, é provavelmente o mais importante e o mais belo livro do poeta.

Por fim, vale lembrar o relançamento de Poemas, sonetos e baladas, publicado em São Paulo em 1946, e que é provavelmente o mais importante e o mais belo livro do poeta. A primeira edição foi de apenas 372 exemplares, todos assinados pelo autor. Nesse livro estão textos antológicos como “Soneto de fidelidade”, “Soneto do maior amor”, “Balada do Mangue”, “Balada das meninas de bicicleta”, “Poema de Natal”, “O dia da criação” e “Soneto de separação”, entre outros.

Quem quiser conhecer mais sobre Vinícius pode acessar o site www.viniviusdemoraes.com.br, um site muito bem feito sobre a obra do poetinha.

Não perca toda segunda às 16h51 e terça às 11h31 o bate-papo literário comigo e com Alexandre Pilati na BandNews FM 90,5, Brasília.

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