O templo de homens iguais (Ou o Maraca era nosso!)

Qualquer carioca que se preze possui ao menos uma história pessoal sobre o Maracanã. Nem que seja apenas sobre a chegada de Papai Noel no helicóptero.

O historiador e poeta Henrique Miranda, tricolor além de tudo, lembra o dia em que um chutão mandou a bola na geral e um torcedor a matou no peito, aparou-a no pé e aplicou o drible do elástico no PM que veio em cima dele tomar-lhe a pelota.

Eu coleciono dezenas de histórias, tais como uma decisão entre Flamengo e Vasco a que assisti em pé no último degrau da arquibancada. Por causa de tanta gente também em pé a minha frente, quando o Flamengo atacava eu esticava o pescoço pra direita para conseguir ver o lance. Quando defendia, eu fazia o movimento inverso.

Mas nenhuma de minhas histórias pessoais com o Maracanã traduz tanto o que era o espírito do velho estádio quanto a do Fla-Flu em que o lateral direito Leandro empatou aos 45 do segundo tempo.

Ele pegou de primeira um chute da intermediária, que bateu na trave, na nuca do goleiro do Fluminense (Paulo Victor) e caiu alguns centímetros para dentro, além da linha do gol. Naquela noite, pensou-se pela primeira vez que o gigante de 200 mil pessoas viria abaixo.

Eu não me lembro do estádio balançando, como disseram, tudo porque eu e um vendedor de mate nos abraçamos chorando, unidos naquela que é uma das mais sinceras alegrias masculinas: o gol do time pelo qual se torce. Ele gritava, perdendo a voz: porra, russinho, o Mengão vai me matar!

Era isso o Maracanã: um negro sem instrução e um branco prestes a entrar na universidade abraçados como os seres iguais que realmente são.

Era muito mais que um estádio de futebol, era um templo de homens iguais.

O Maracanã de hoje, mostrado semana passada, é bonito, é moderno, é funcional.

Mas, pelo que parece, roubaram-lhe a alma e a democracia.

Sobre adoção por casais homossexuais

Conheci um garoto na época de colégio que aos quinze anos flagrou o pai transando com a empregada na cama em que dormia todas as noites com a esposa, mãe do menino.

Pode-se imaginar que tipo de entendimento ele tenha hoje, homem maduro, quanto ao que seja respeito num relacionamento homem-mulher. Ou talvez, quem sabe, o trauma que a cena tenha lhe provocado o fez optar pela lealdade e pela honestidade no namoro, no casamento.

De qualquer modo, sua cabeça não deve ter atravessado incólume o choque ao longo da vida.

O casamento perdurava ao menos até a época em que éramos colegas de escola, afinal, na época, a aparência de família unida e feliz valia mais do que a união e a felicidade verdadeiras.

Outra vez, ouvi de uma delegada de polícia que as mulheres ricas têm resistência a prestar queixa quando apanham do marido. E não se separam. “Não é só por causa do padrão de vida, é por causa do que vão dizer a famílias, os amigos, a sociedade”, ela me explicou. “Então, fica a todo mundo junto, na mesma casa, vivendo o inferno?”, perguntei. Ela fez cara de sim, pois é.

Não consigo enxergar no que a adoção de uma criança pobre, sem lar, sem perspectiva na vida por um casal gay possa ser mais prejudicial do que a criação com bases em infidelidade, desrespeito e violência conjugal de um casal hetero, dentro dos conformes da padronização social.

Quem tem filhos – e mesmo quem não tem pode imaginar – sabe que as demonstrações de amor, afeto e respeito dentro de uma casa vão ajudar a construir a personalidade dos futuros adultos, estarão presentes na forma como se relacionarão e tratarão as pessoas.

É difícil aceitar, e difícil de compreender quem aceite, que a existência desses três elementos – amor, afeto e respeito – esteja condicionada à opção sexual.

Vinho e futebol descalço

Uma das coisas que mais me chamaram a atenção na Itália foi a relação simples e quotidiana das pessoas com o vinho.

No país que é um dos principais produtores do mundo, vira-se em um copo de plástico uma pequena garrafa de 375 ml (ou até menor), para se acompanhar um panino (tipo de sanduíche), os dois vendidos em um trailer fuleiro, igual aos que aqui existem em beira de praia.

É um momento desprovido de qualquer solenidade ou aparato, e nem por isso isento de delícia.

Se fôssemos comparar com algo no Brasil, arriscaria aquelas peladas jogadas por meninos descalços em campos de terra ou mesmo no asfalto, e que só terminavam quando a mãe de cada um vinha buscar pela orelha o respectivo filho.

De uns vinte anos para cá, o brasileiro, que historicamente só tomava pinga e cerveja de qualidades discutíveis, começou a aprender sobre os prazeres do vinho, mas parece não ter aprendido que não necessariamente a bebida merece pompa e circunstância. E na maioria dos casos, excetuando quem realmente estudou sobre a bebida, a simplicidade prazerosa de uma garrafa aberta acaba se perdendo numa encenação que tange as raias do ridículo: muita mão mole rodando taça de cristal, muita fungada na borda da taça, muita impressão descabida, assemelhando-se a delírio – certa vez ouvi que determinado vinho era reticente (?).

Milênios nos distanciam da cultura e do conhecimento que os europeus detêm sobre o vinho, tão acima da ideia rasa de que “se é caro é bom, se é relativamente barato é ruim”.

Portanto, longe de ser qualquer culto à bebida, esses gestos e trejeitos estão bem mais próximos da ostentação, do esnobismo, emblemas de uma camada da classe média que ascendeu socialmente devido à conjunção de seus méritos com a conjuntura econômica do país nas duas últimas décadas.

É como se os moleques que jogavam descalços na terra e no asfalto passassem a jogar, de uma hora para a outra, apenas em gramado perfeito e com chuteiras da Nike.

Sobre bolinhos, biscoitos, cakes e cookies

Anos atrás, parei em um quiosque num shopping do Rio e pedi, apontando a estufa:

-Me dá um bolinho desse, por favor!

Por acaso, quem me atendeu era a própria dona do quiosque. Olhou-me com ar ofendido e rebateu:

-É um brownie!

Não perdi a oportunidade:

-Pois pra mim, pelo menos na cara, é igual ao bolinho que a padaria lá perto de casa faz. E se bobear, no sabor, perde.

Fui embora sem comer.

Pelo que lembro, o tal bolinho do Tio Sam estava chegando por aqui, e, mais do que comê-lo, o chique era enrolar a língua para falar seu nome, provando que o dinheiro no cursinho de inglês fora bem empregado.

Agora, a moda são os cupcakes e os cookies.

-Me dá três bolinhos desses, por favor! Quanto custa esse biscoito? – peço e pergunto quando estou com minhas filhas, já que atualmente, por causa da glicose rebelde, sozinho nem passo perto de lugares que vendem doces.

-Pai, é cupcake, é cookie. – e as duas mais velhas me corrigem. Como ainda são pequenas, não chamam de “mico” a defesa paterna da Língua Portuguesa (eu que me prepare para a adolescência).

-É bolinho e é biscoito.- retruco e elas aceitam, pois o que importa mesmo é que eu compre e elas se lambuzem.

Me advertiram de que nos EUA provavelmente chamam tapioca de tapioca mesmo, o que, numa espécie de reciprocidade linguística, nos deixaria à vontade para usar os cakes. Respondo que a diferença é que os nomes das gulodices deles podem ser traduzidas para o português, ao passo que nossa tapioca não (e será que eles já viram alguma vez tapioca por lá?.

Acho que palavras estrangeiras cabem no nosso dia a dia, sem problemas, desde que não tenham tradução. E para me manter nos âmbitos do inglês e da culinária, um bom exemplo seriam os sanduíches. Pelo que eu saiba, não existe nem no vocabulário nem em nossa cozinha algo igual aos burgers. É o caso de tantos pratos italianos, que chegaram por aqui sem similares em nossa mesa e, por isso também, sem tradução para o português.

Mais do que isso, usar o inglês quando existe a possibilidade em português e esta torna o entendimento até mais fácil, me parece colonialismo barato, servilismo, desonra.

E se acham que estou politizando demais o assunto, mudo o discurso: é babaquice mesmo!

Sobre câncer de mama

Sem ter há anos notícias sobre uma velha companheira de trabalho, sou surpreendido por uma mensagem na rede social pedindo corrente de orações por ela.

Logo em seguida, fico sabendo que está na UTI de um hospital no Rio, perdendo a batalha para o câncer de mama.

A imagem da companheira risonha e dedicada à profissão vai sendo roubada, então, aos poucos, por uma doença que mata cerca de dez mil mulheres por ano no Brasil, geralmente acima dos 35 anos.

Não sei se o caso dela é de descuido, diagnóstico errado em algum momento ou qualquer fator genético que a tenha jogado nos braços de uma doença cuja prevenção começa com o autoexame.

Mas sempre que se toma conhecimento de um caso, vem o ímpeto de cuidar para evitar outros.

A ditadura da beleza a qualquer preço empurra as mulheres para academias e centros de estética, ditando como fundamento do bem estar o corpo malhado, a magreza, o seio empinado, as pernas firmes, o bum bum esférico e endurecido. Poderiam aproveitar a força que possuem e conscientizarem as mulheres sobre o câncer e seus periféricos, como o HPV, por exemplo. Prestariam  serviço à beleza, mas principalmente à vida.

De que adianta ginástica, dieta, escova no cabelo, roupa da moda, silicone aqui e ali e pele esticada se a mulher não cuidar do inimigo invisível que pode estar agindo dentro dela, sem que ela perceba?

Mães, esposas, namoradas, amantes, filhas, amigas! Não têm importância a ruguinha no rosto, a bundinha mais caída, o peitinho mais embaixo, a estria que escapole do biquíni.

Nós não queremos vocês perfeitas!

Nós queremos vocês vivas!

Ao nosso lado!

Os limites da TPM

Escrevi outro dia sobre isto: idosos que, por causa da prerrogativa justa que possuem de ter preferência, não se acham no dever de dizer ao menos obrigado quando lhes cedemos o lugar no transporte público ou a passagem no elevador.

Nenhum direito nos desobriga da educação.

O mesmo vale para manifestações físicas e seus “mau estares”.

Explico.

Dor de cabeça, de estômago, de dente ou seja lá do que for, também não são passaporte para o destrato em casa, no ambiente de trabalho, na rua.

A não ser que haja um cartaz em seu pescoço avisando, ninguém é obrigado a saber que você está passando mal.

Tente ser delicado e informe: desculpa, mas eu não tô legal.

Mas aonde eu quero chegar mesmo é na tensão pré-menstrual, cuja sigla – TPM – é tão famosa quanto INSS ou FBI.

Deve ser barra pesada o infortúnio que certas mulheres vivem todos os meses. Eu não tenho ideia, nasci homem nessa encarnação.

Mas às vezes me parece que há um consenso velado de que mulher na TPM tem direito a tudo em termos de comportamento, de relacionamento com o próximo.

É como se aceitássemos a ideia de que se fulana tá na TPM, pode xingar, escorraçar, ser grossa, estúpida, deixar a educação em casa. Afinal, são os hormônios. O mundo que tenha compreensão e abaixe a cabeça para as alterações dos hormônios femininos.

Desculpem, mas não acho que deva ser assim.

Se um dia eu tiver um problema qualquer e não conseguir mais ereção, não acho que deva sair por aí cuspindo farpas, pregos e tachinhas.

Perdão, querida, eu não tenho culpa se você nasceu mulher.

Sobre gente, cães e gatos

Nada contra quem se preocupa com cães, gatos e demais espécies.

Eles precisam de carinho, cuidado e respeito.

Francisco de Assis foi um dos maiores vultos da humanidade também pelo seu amor para com os animais.

São válidas as postagens sobre cães e gatos que precisam de adoção, embora ache inteiramente dispensáveis as fotos desses animais macerados ou mutilados pela bestialidade do bicho homem.

Mas em um momento em que recrudesce, chegando às raias do ódio, o debate sobre a redução da maioridade penal, talvez estejamos perdendo uma oportunidade de falarmos um pouco mais sobre adoção nas redes sociais. Adoção de seres humanos, diga-se de passagem. Adoção de crianças que, não obstante a família desestruturada, podem se tornar adultos de bem, voltados para o amor e a paz, distantes da criminalidade.

Existem diferentes formas de adoção, que não se limita a ir no juiz e pedir para ser pai e mãe daquela determinada criança, levá-la para casa, inseri-la na família e apresentar pra todo mundo: “Essa é minha filha ou esse é meu filho”. Em alguns casos, acompanhar uma criança em um orfanato, cuidando de sua vida escolar, ou simplesmente dando-lhe amor e carinho, não é pouca coisa, e não sendo pouca coisa, é muito mais do que nada, do que a omissão.

É claro, bichos dão trabalho, mas ser humano dá mais, pode não querer comer quando você manda, não estudar quando é hora, chegar em casa bem depois do combinado. Ser humano pode não obedecer; ser humano, depois de uma idade, diz que você não manda nele; ser humano pode te decepcionar, te magoar. Mas o mundo só vai melhorar se o ser humano for melhorado, e a infância é uma ótima idade para se melhorar as pessoas.

E pessoas melhores cuidam melhor de cães, gatos e bichinhos de uma forma geral.

“Startando” o processo, identificando um gap

Alguns anos atrás, era moda conjugar em português o verbo inglês start. “Precisamos startar o processo”, dizia o gerente de uma famosa emissora de rádio em que trabalhei, quando queria nada além do que dizer “parem de me enrolar e vamos começar logo isso, que já tá demorando demais”. Mas o chique era startar, impressionava os subordinados aquela intimidade com a terminologia dos manuais de administração.

Mais antigo ainda é o tal do up grade. Era preciso melhorar algo, dava-se logo um up grade que a coisa funcionava. Fulana cortou o cabelo, tá se vestindo melhor? Ah, foi porque deu um up grade no visual. Esse parece que foi extinto, nunca mais ouvi. Talvez, fora de moda, dar um up grade possa ter até significado contrário hoje em dia.

Publicitários não têm trabalhos para fazer. Eles executam jobs. “Ai, peguei um job que tá me matando!”, e aflitos repetem a palavra, mesmo que o interlocutor seja um simples mortal que entenda apenas de trabalhar.

O jornalista Leandro Fortes confessa sua falta de paciência com quem anda de bike, e eu me lembro que na minha adolescência a gente montava no “camelo” e saía pedalando por aí, porque andar de bicicleta era coisa de gente que tinha a idade que eu e Leandro temos hoje.

Atualmente, parece-me que a estrela importada do vocabulário dos outros é gap (se você não sabe inglês, fala-se guépi). A nova palavrinha da moda significa espaço, lacuna, e todo mundo agora acha que precisa aproveitar os gaps que existem nos vários setores da vida humana. A qualquer hora ouço que há um gap aqui, ali, acolá.

É chique, é moderno e quem fala passa a imagem de antenado, de contemporâneo.

Mas me dá um soninho…

O nu honesto das mulheres normais

Um dos vários momentos em que Rubem Braga alcançou a perfeição como cronista foi em “Era loura e chamava-se Ruskaia”. Não me lembro de qual livro é e confesso que não vou procurar agora, mas com as ferramentas que o fizeram meu mestre e de tantos outros no ofício da crônica, o velho Braga conta que, quando rapazola, ficou deslumbrado com uma bailarina russa que viu dançar, se não me engano no Municipal do Rio. Conta de seu fascínio pela figura espetacular de beleza realçada por um mundo mágico de palco iluminado, gestos suaves e longos e música dos anjos.

Escreveu o mestre que saiu envolto em nuvens de paixão, ou algo semelhante (permitam-me o pecado de inventar em cima do que é sagrado), mas termina a crônica dizendo que, àquela altura da juventude, ainda não imaginava que a mulher da vida de todo o homem é mesmo simples, comum, sem espetáculo, de nome normal como, por exemplo, Joana.

Foi da crônica do mestre que imediatamente lembrei ao ver a postagem de minha amiga poetisa Nanda Barreto. O post se chama Nu Honesto e fala do trabalho de um fotógrafo americano – Matt Blum – que decidiu fotografar nuas mulheres comuns, sem maquiagem, muito menos photo shop. Ele as clica em casa, em seus ambientes habituais, nas poses que gostam de fazer na cama, sofá, encostadas nas paredes.

O trabalho é genial não apenas porque se propõe a passar bem distante da plástica excessiva e das poses pornograficamente forçadas das piriguetes e big Brothers, clicadas por força de contrato pelas revistas masculinas. É genial porque mostra mulheres normais, que andam ao nosso lado na rua, trabalham conosco, param no mesmo sinal que nós. É delicioso justamente porque mostra essas mulheres com as delícias e os “defeitos” de seus corpos, quais sejam, a barriguinha sobrando um tanto, a cocha não tão lisa, o peito nem tão empinado (ou nada).

O que as mulheres não entendem é que é por elas, essas normais, tão estranhas ao mundo fantasioso dos estúdios, que nós, homens, nos acabamos física e emocionalmente ao longo da vida, desde a adolescência até a velhice. Talvez cheguem mesmo a imaginar que, na cama com elas, imaginemos os tais monumentos produzidos, de bunda e peitos de plástico. Mal sabem que é muito mais fácil o contrário: se um acaso cinematográfico do destino nos pusesse na horizontal com alguma dessas que saem nas revistas, acontecer de conseguirmos chegar ao final imaginando justamente nossas mulheres normais, passando nuas do quarto pra sala, saindo do banheiro e parando na cozinha para tomar água.

A histérica e escravagista classe média brasileira

Há não muito tempo presenciei a preocupação de uma alta funcionária pública, grávida de sete meses e mãe de um outro filho ainda pequeno. Ela empregava uma babá, mas reclamava da dificuldade em conseguir uma segunda, e todo seu tormento era dar conta de dois filhos com apenas… uma babá.

Há uma cena que não é incomum, ao menos nos ditos bons restaurantes de Brasília. O casal chega no início de uma tarde de domingo, trazendo na maioria das vezes somente um filho e, a tira colo, uma mulher, invariavelmente negra ou nordestina – às vezes, as duas – para cuidar do pupilo. Em alguns casos, a mulher ao menos se senta à mesa, mas não raro também é encontrar as que não recebem permissão para isso, e ficam ali, serviçais constrangidas por um ambiente extremamente destoante da realidade particular de cada uma.

Agora – meu Deus! Como será? – sinhazinha e sinhozinho terão que pagar uma série de direitos trabalhistas se quiserem continuar almoçando aos domingos sem que lhes roube o sossego o filho que puseram no mundo.

A ampliação dos direitos trabalhistas das domésticas é uma chamada à realidade de uma parcela da população brasileira que insiste em costumes escravagistas em plena segunda década do terceiro milênio. Mesmo que de forma aparentemente involuntária praticam esse mal achando que estão fazendo o bem, como certa madame do Lago Sul – bairro nobre da capital do país – que só dava folga para a empregada em apenas um domingo de 15 em 15 dias, mas mostrava a consciência tranquila explicando que “fulana come e dorme de graça aqui em casa”.

Analistas arriscam, com certo folga, que essas mudanças reduzirão bastante a oferta de trabalho para as domésticas. Esta semana, soube de escolas onde aumentou a procura dos pais pelo turno integral para os filhos, sinal provável de que estão dispensando ou desistindo de contratar babás, o que confirmaria o paplpite dos entendidos. E é bom lembrar que a escola certamente é bem melhor preparada para cuidar de uma criança do que pessoas que exercem esse ofício porque não tiveram outra oportunidade profissional na vida.

Previsões postas de lado, seria uma evolução social no país o desaprecimento dessa nódoa da escravidão.

Se colocamos filhos no mundo, nós que os assumamos e deles cuidemos, com todas as alegrias e desconfortos que isso representa, e que nos conveçamos – inclusive os homens – de que somos perfeitamente capazes de cozinhar, lavar e passar, mais ainda nesse mundo maravilhoso de lavadoras, secadoras, micro ondas e afins.

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